Como não usar o Google

Acabei de ler um excelente artigo, What Student Don’t Know, que explica algumas razões pelas quais os estudantes universitários não consultam os bibliotecários.

Dentre os muitos pontos que a gente já conhece de cór sobre os desafios do cotidiano bibliotecário, um que me chamou atenção foi a dificuldade que os alunos tem ao utilizar o google para pesquisa acadêmica.

Ao longo das entrevistas, os estudantes mencionaram o Google 115 vezes – duas vezes mais do que qualquer outra base de dados. A prevalência do Google nas pesquisas acadêmicas é bem documentada, mas os pesquisadores de Illinois descobriram algo que não esperavam: os alunos não eram muito bons em usar o Google. Eles basicamente não faziam idéia sobre a lógica subjacente à forma como o motor de busca organiza e apresenta os seus resultados. Conseqüentemente, os alunos não sabiam como construir uma pesquisa que iria retornar boas fontes. (Por exemplo, limitando uma busca para artigos de notícias, ou consultar bases de dados específicas, como o Google Book Search e Google Scholar.)

Daí eu lembrei de uma coisa: muito do que eu aprendi sobre lógica de busca no Google foi analisando a maneira como os leitores do BSF chegavam até este blog. Em qualquer sistema de estatísticas de sites ou blog é possível enxergar, caso tenha chegado por intermédio de uma máquina de busca como o Google, a sentença ou termos de busca utilizados pelo visitante. E percebi que em muitos casos, os visitantes chegavam aqui por acidente. Isto é, eles não estavam buscando por nada relacionado a bibliotecas ou biblioteconomia, que é tema central dos posts do blog. Eles acabavam aqui porque formularam mal suas buscas, interpretavam mal os resultados do google e tomavam a decisão errada de entrar em um blog que não respondia a sua necessidade de pesquisa.

Esses são os chamados “paraquedistas”, pessoas que caem desnorteadamente sobre um determinado conteúdo online. Existem também os posts caça-paraquedistas, que são técnicas utilizadas pelos blogueiros e webmasters para captar tráfego, mesmo que não se estabeleça nenhuma associação entre as necessidades do usuários e a tipologia do conteúdo.

O Google parece ser simples, e é até certo ponto, o que justitica a sua popularidade. Mas tem suas complexidades. Os resultados de busca são simplesmente uma correlação entre os caracteres inseridos no “search box” e os caracteres contidos nas bilhões de páginas rastreadas pelo Google. Junte isso ao Page Rank (não vou explicar, procurem no, er, google) e você tem o que tem nos resultados das buscas.

Então a lógica é a seguinte: a busca por alguma informação tem que ser formulada em termos de como essa informação foi representada pelo produtor dessa mesma informação. Em outras palavras, escreva em sua busca exatamente (potencialmente) o que o autor da informação escreveu, e vocês estarão falando da mesma informação. E o Google, matematicamente, irá interpretar a semelhança em forma de caracteres e sentenças, projetando os resultados com as informações que se correlacionam [vale o mesmo para quase todas as outras máquinas de busca: Bing, Yahoo, outras]

Assim, o papel do criador do conteúdo seria escrever títulos de publicações, até mesmo de artigos acadêmicos (os permalinks são cruciais para o Google. Saiba por que no, er, google) pensando de que maneira seus títulos seriam buscados pelos potenciais consumidores. Em contrapartida, os consumidores buscariam por conteúdo pensando na maneira que os produtores definiram seus títulos (ou mais extensamente, o corpo do texto).

Um exemplo de busca ruim que posso apresentar é um visitante do BSF que caiu aqui ao buscar por “que horas abre a biblioteca carandiru”. A sentença de busca é ruim, pois um produtor de conteúdo dificilmente escreveria “que horas abre…”, mas sim algo como “a biblioteca do Carandiru abre as..”. Ou, por que não ser mais claro e objetivo, buscando por “biblioteca carandiru horário de funcionamento”? As chances de encontrar um conteúdo relevante compatível com esse conjunto de termos associados é muito maior.

Um exemplo de formulação de conteúdo que se adequa ao Google é exatamente o post que escrevi sobre a Biblioteca do Carandiru (precisaria de outro post para explicar como obter melhor ranking nos SERPs e por que as bibliotecas deveriam investir em SEO nos seus catálogos online). Bem ou mal, pelo fato do post aparecer no topo dos resultados do google em buscas por “biblioteca do carandiru”, acaba atraindo uma série de paraquedistas.

Booleanas e busca avançada também seriam de grande ajuda, mas uma boa lógica de busca já é o suficiente para obter bons resultados.

Parece ser desprezível para buscas simples, mas pode ser crítico para buscas acadêmicas avançadas.

“Saiba o que está pesquisando, porque fará grande diferença na maneira como realiza a pesquisa.”


4 respostas para “Como não usar o Google”

  1. moreno concordo com vc! talvez seja por isso que meu curso a distancia “pesquisas academicas na web”, oferecido via FEBAB, ja esteja na 9a. turma… as dificuldades nas pesquisas academicas online sao muitas, ate mesmo no Google… eu topei o desafio de ajudar a quem interessar possa com este curso, que esta com matriculas abertas: http://www.febab.org.br
    []s… suelybcs

  2. Moreno, muito pertinente suas palavras e ótimo artigo sugerido, é sabido que é uma das grandes barreiras que encontramos é nos deparar com este tipo de usuário, que por mais que esteja inserido digitalmente ainda é carente quanto ao uso devido/relevante destas fontes de informação. Abcc

  3. Adorei o texto. Tento passar esse tipo de informação ao meus amigos e nos eventos que participo. O google não é uma porta mágica onde você faz a sua pergunta e a resposta aparece. Mas engraçado que se você utiliza-lo dessa forma, ele funciona. Porque as pessoas que o utilizam fizeram assim. É uma bola de neve divertida e ‘complicada’ 😀

  4. Se a humanidade refletir, a internet tinha muito mais libertade antes do monopolio Google, hoje vc ve o que eles querem, usa o que eles impõe e aos poucos vejo o fim da liberdade na internet e todo mundo acha lindo… Isso tudo é relexo da nova politica mundial, SOCIALISMO CAPITALISTA. Nossa função é obedecer, ficar quieto e PAGAR… Ninguem fala do salario do americano em relação ao nosso, ninguem fala em sair as ruas e reenvindicar seus direitos, SOMOS BRASILEIROS PORRA !!!

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