A produção intelectual da biblioteconomia brasileira é perfeitamente coberta pelos periódicos científicos da área, embora esses artigos de modo geral revelem somente os anseios de pesquisadores enveredados pelos campos da ciência da informação ou docentes dos cursos de biblioteconomia que se aprofundam em tópicos específicos da práxis bibliotecária.
Existem modelos independentes que fogem um pouco das formalidades acadêmicas, que são ótimos em conteúdo, mas sem força para sair do campus e penetrar nas redes sociais que os bibliotecários habitam, físicas ou virtuais. OFAJ talvez, sendo o melhor exemplo.
Por bastante tempo eu senti falta de uma versão do Library Journal no Brasil, uma publicação feita por bibliotecários, para bibliotecários, sobre bibliotecas. Mas felizmente, essa ausência está sendo aos poucos suprida pela Biblioo, que está fazendo um excelente trabalho desde sua criação.
Os blogs poderiam cumprir uma missão alternativa de garantir espaço para aqueles que não se enquadram no modelo acadêmico de comunicação interpares, mas no Brasil, salvo raras excessões, os blogs escritos por bibliotecários são apenas compilações de links e textos efêmeros.
O próprio BSF, ao longo de 10 anos, nunca teve a intenção de promover uma discussão mais intelectualizada e crítica, e acabou virando um protótipo das trocas interpares no ambiente digital não-acadêmico: vi, gostei, compartilhei.
Por esses dias se tem falado muito de uma tal curadoria digital, que embora eu mesmo acredite ser um trabalho plenamente cabível aos bibliotecários, precisa parar de ser uma tentativa moralizante de conceder às pessoas que compartilham links interessantes o mesmo status daquelas que produzem conteúdo original.
Alguns dias atrás também eu brinquei no Facebook sobre a minha vontade de oferecer uma “casinha” para todos os bons blogs e conteúdos de qualidade espalhados pelas redes sociais, mas que não têm um apelo estético agradável ou uma abordagem sistematizada de disseminação em redes sociais. Mas isso no final das contas pareceria um wunderblogs ou interney, o que soa demasiadamente 2003.
Lá pelos idos de 2003 também, Alex Leninne propôs a criação da Revista ExtraLibris (subdividida em acadêmica, profissional e tecnológica), que serviria como um escape à publicação formal acadêmica e ao amadorismo blogueiro. Sem ISSN, sem normalização. Apenas textos escolhidos por nós. Alguns desses textos estão espalhados por aí até hoje e fizeram o caminho inverso: foram absorvidos pela comunidade acadêmica. Talvez porque a proposta da revista não excluísse a possibilidade dela fazer esse caminho inverso, mais do que a proposta de se voltar somente para a cultura marginalizada de consumo intelectual bibliotecário fora da academia.
Nos últimos anos a revista entrou em um limbo, vítima da nossa impossibilidade de dedicação exclusiva, mínima que fosse.
Como um projeto que sai da incubadora, estou retomando a “curadoria” da revista, em caráter perpetuamente experimental. Não há uma linha editorial definida. Eu tenho o hábito de acompanhar a produção blogueira-twitteira-bibliotecária nacional e internacional e sempre surge coisa interessante, mas que com o passar do tempo se perde na imensidão dos posts e tweets. A missão seria ocupar esse nicho da cultura marginal intelectual bibliotecária: uma publicação que não é quadrada o bastante para a comunidade acadêmica e que não é redonda o suficiente para a comunidade das redes sociais e blogs.
Então, a proposta do Informalidades.com é reunir textos que eu julgo ser interessantes, dentro de uma avaliação estritamente pessoal, ao mesmo tempo em que opto por republicar coisas que possivelmente se perderiam nas restrições de outros veículos, sejam revistas, blogs, tweets ou facebook, e que fatalmente não transitariam por entre esse meios. É possível um texto crítico denso sobre biblioteconomia ser digerido por bibliotecários comuns, como eu e você? É possível um tweet sobre cotidiano das bibliotecas ser digerido por acadêmicos da área de “informação”? Veremos.
Visitem, salvem o feed.
Informalidades.com
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