Passadas as comemorações do Dia do Bibliotecário, acredito que se fizermos um levantamentos dos temas mais abordados nesses eventos, entre os três mais recorrentes vamos encontrar “a atuação do bibliotecário fora da biblioteca” (os outros dois vocês já sabem quais são).
Não é um tema novo. Eu mesma já participei de paineis e projetos sobre o assunto em outros anos. Mas a popularidade desse tema me faz pensar se isso, na verdade, não é um reflexo do temor de estarmos nos tornando obsoletos e termos que encontrar novos espaços e atribuições onde todo esse nosso precioso conhecimento adquirido na graduação possa ser útil e relevante.
Desde que escolhi o curso de Biblioteconomia, nunca tive a pretensão de trabalhar em uma biblioteca. Lembro-me perfeitamente de que quando ainda estava indecisa entre prestar vestibular para Enfermagem, Arquitetura ou Matemática, li a descrição do curso de Biblioteconomia no Guia do Estudante e achei fantástica a ideia de uma profissão criada para organizar informações, e a promessa de que poderia atuar em empresas, escritórios, grupos de pesquisa, etc.
De fato, em mais de dez anos de carreira, nunca cataloguei um livro profissionalmente, só trabalhei no setor de referência por duas semanas (ou cobrindo o horário de almoço de algum colega), e tive uns seis meses de experiência na indexação, mas ainda assim fiquei conhecida como “a bibliotecária que trabalhou na ONU”. Só que o restante do tempo lá, eu estava fazendo outras coisas.
Como bibliotecária, já fui coordenadora de publicação eletrônica, diretora de tecnologia, gerente de marketing, gerente-geral de vendas de publicações, gerente de relacionamento, e especialista em treinamento, entre outras funções. Em algumas delas, a formação em Biblioteconomia foi determinante para conseguir a vaga, em outras foi um diferencial importante, e em todas, os conhecimentos de organização e gestão de informação foram fundamentais para ser bem sucedida.
Aos que pretendem seguir esse caminho fora das bibliotecas, tenho duas recomendações:
Primeira: Cultive habilidades e competências adicionais aos seus conhecimentos básicos. Pode ser em áreas instrumentais, como idiomas ou tecnologia; em áreas afins, como arquitetura da informação ou publicação eletrônica; ou ainda em tópicos totalmente diversos, como economia, finanças, políticas públicas, sustentabilidade, que lhe trarão uma nova perspectiva e podem abrir caminhos para atuar nesses contextos.
Segunda: Não tenha medo de se desapegar da nossa eterna bandeira da informação como bem social. Todos nós temos em nosso cerne bibliotecário o ideal do compartilhamento, da disseminação, da democratização da informação. Mas o mercado não está nem aí para isso. Empresas querem vender produtos, outros grupos querem vender ideias. E você vai ser pago para isso. Mas não se preocupe, pois no meio do caminho, você vai acabar descobrindo maneiras de socializar a informação sem entrar em conflitos com seu empregador.
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