Inovação é atualmente a palavra da moda em todas as áreas e com isso surge uma questão: Como inovar em Biblioteconomia?
Inovar é criar coisas novas, o que claramente contrasta com a Biblioteconomia que tem uma visão tradicionalmente conservadora de trabalhar e além disso, como inovar em um ambiente que é extremamente dependente de tecnologia que não produz? (Os conteúdos estão sempre em suportes tecnológicos, os sistemas de organização também são dependentes de hardware, software e conectividade, que por sua vez são dependentes de padrões, etc.)
Essa dependência resulta em um ambiente de evolução tecnológica muito conservador, baseado no continuísmo e na incorporação de novas características que não necessitem de alterações significativas no conjunto pré-existente. Esse modelo de desenvolvimento não é usado só por nós e é eficiente (custo vs. benefício), mas não vale a pena se dar uma repensada nele?
E além disso, é possível inovar sem ser tecnologicamente?
Fique a vontade para comentar as questões acima, eu achei interessante um texto do Stephen Abram sobre dicas para inspirar inovação nas Bibliotecas:
32 Tips to Inspire Innovation for You and Your Library: Part 1 , Parte 2 e Parte 3.
Ele não responde as perguntas, mas vale a pena dar uma olhada…
E uma última pergunta: Alguém ai conhece exemplos de inovação em bibliotecas?
5 respostas para “Inovação”
Eu tenho uma visão um pouco “conservadora” destas coisas. Conservadora naquilo que o termo tem de positivo. Ser conservador não significa necessariamente ser antiquado, resistir à inovação ou recusar propostas e ideias novas, embora o conservadorismo se caracterize, frequentemente, por estes aspectos negativos. Há um lado positivo, criador e progressista em ser conservador. Todos nós, sem darmos por isso, temos atitudes e gestos conservadores quando eles são necessários. Refiro-me ao nosso dia a dia: conservamos os objectos que nos agradam, que nos fazem reviver afectos, conservamos hábitos que nos identificam e nos establizam emocionalmente, conservamos amizades e contactos. Conservar não significa combater a inovação. Nesse sentido, eu sou conservadora. Gosto muito de usar a “alegoria do cozinheiro” quando me refiro a este assunto: qual a diferença fundamental entre uma cozinheira à moda antiga, da província, que ainda faz o pão, os assados e as sopas como se faziam há 50 anos e um cozinheiro “chef”, com uma cozinha sofisticada e cheia de máquinas? A diferença é superficial porque a essência do seu saber é a mesma. E se o “chef” não conseguir cozinhar sem as suas máquinas, então ele não é um cozinheiro. O mesmo se passa com a nossa profissão. É feita de práticas antigas e repetidas, de saberes acumulados e feitos de experiências, está cheia de conhecimentos que não se adquirem nos cursos de biblioteconomia. Inovar na tecnologia, sim, com certeza, a tecnologia facilita-nos a vida, poupa-nos tempo. Em particular a Internet permite-nos hoje um acesso a informações que, de outro modo, não teríamos a menos que nos deslocássemos muitas centenas ou milhares de quilómetros. Mas inovar não pode significar recusar o que está para trás. Se o fizermos, se esquecermos o saber e as práticas dos profissionais que nos antecederam, se perdermos a memória, mais tarde ou mais cedo, nós ou os que vierem depois, terão de reaprender essas coisas, terão de fazer o trabalho todo do zero novamente. Desperdiçando tempo, recursos e capacidades que poderiam ser utilizados… a inovar!
Clara
A propósito deste tema escrevi aqui no BSF, há uns anos, algumas reflexões que vêm mesmo a propósito: Gerações
[…] Como disse em um post anterior, a Biblioteconomia tem diversos entraves que podem até impedir a inovação. Todo o nosso trabalho está voltado para organizar algo que já existe, e tudo o que fazemos está diretamente associado às características já existentes nesse objeto. Por isso, sempre seremos a Biblioteconomia do possível e isso em questão de matéria de sobrevivência é muito ruim. […]
não é bem um texto sobre inovação em bibliotecas, mas, vá lá, é do peter burke: http://alegaldo.com/2009/05/24/476
Queridos bibliotecários, algumas “ideias” de uma não-bibliotecária, uma administradora que faz mestrado em Ciência da Informação e convive diariamente com bibliotecários.
Ideias que não conseguem calar na minha cabeça.
Primeiro convido-os a por algumas linhas, pensarem como administrador.
1. Quem é o “cliente” da biblioteca? Gente de todo tipo que dependo ou é apaixonado (como eu) por livros. Em geral, pessoas com algum interesse cultural.
2. Qual é o “produto” da biblioteca? Nesse momento, vamos deixar de lado a discussão sobre se é informação ou livro, porque o livro em si, já é um produto e tanto!
3. Agora vamos analisar a “concorrência” ou o “mercado”: Que outras “organizações” oferecem livros? As livrarias, só que as livrarias VENDEM livros, exigem desembolso financeiro dos seus clientes. Enquanto as bibliotecas, emprestam livros e os dispõe para consulta local gratuita.
4. Ainda analisando o “mercado”, escolha três lugares para fazer um “benchmarking”:
Escolha três bibliotecas e três livrarias.
Dentre as três bibliotecs, escolha ao acaso, pois não diferem muito entre si.
Entre as livrarias, sugiro que escolha a Livraria Cultura, (a do Conjunto Nacional ou a do Shopping Villa-Lobos)em Sampa; a Livraria da Travessa do Rio; qualquer das livrarias Saraiva.
Entre as três bibliotecas e as três livrarias, o que está mais cheio de gente? As bibliotecas ou as livrarias? Onde as pessoas parecem se sentir mais livres, felizes e motivadas entre os livros? Nas bibliotecas ou nessas livrarias?
5. Agora vamos falar do histórico dessas livrarias. Uma livraria não foi sempre o que é hoje, uma Cultura, uma Travessa ou uma Saraiva. Também já foram ambientes mais reservados e os livros não ficavam dispostos como ficam para serem folheados, vistos e quase venerados (por apaixonados por livros como eu). O que fizeram para atrair tanta gente? Inovaram!
6. Pergunta: uma biblioteca não pode oferecer ambientes agradáveis de intimidade com os livros, como essas novas livrarias? O Peter Burke relata que as bibliotecas foram no Renascimento, espaço de discussão e debates de ideias. Uma biblioteca universitária está rodeada de eventos, palestras, encontros para debates de ideias. Mas nunca na biblioteca, na qual se exige silêncio medieval. Claro que é necessário que hajam espaços para o silêncio, mas nas grandes bibliotecas universitárias é possível criar espaço separados. Um espaço para o silêncio e outro para o convívio entre pessoas, livros e ideias.
Essa é a visão de uma administradora frequentadora assídua de bibliotecas e livrarias. Entretanto, frequento mais as livrarias porque me sinto mais feliz numa livraria como a Cultura, a Livraria da Travessa ou mesmo uma Saraiva.
Alessandra
Existem inovações em bibliotecas há tempos. No caso brasileiro destaco as redes de bibliotecas, que atendem com qualidade. Como trabalho no meio jurídico, cito a biblioteca do STJ como exemplo de inovação – hoje ela ocupa o espaço que já foi da biblioteca do Senado. Tem outros exemplos, bons exemplos.