Com base nas últimas discussões, 1 (winisis), 2 (Ci ou Biblio) e 3 (Informática), levantei as melhores conversas que tive por email nos últimos meses com Alex Lennine, Fabiano Caruso e Roosewelt Lins para chegar às seguintes conclusões:
Roosewelt Lins: o ensino focado em Tecnologias de Informação não deve ter apenas a abordagem computacional pragmática, mas também uma abordagem conceitual, e essa é uma das necessidades vigentes na biblioteconomia brasileira.
Alex Lennine: alguém poderá, entretanto, enunciar que os problemas fundamentais da biblioteconomia não são tecnológicos, nem possuem soluções empíricas: eles são problemas intelectuais que requerem soluções filosóficas.
Uma quantidade sensivelmente grande de atribuições ensinadas nos cursos superiores não têm relevância para a formação especializada das profissões em que são ensinadas. Visam apenas a preencher currículos supostamente desfalcados e dar um ar de “intelectualidade” aos seus egressos. Acabam por formar diletantes especializados em algumas atribuições técnicas de nível secundário ou politécnico – que, uma vez tiradas essas técnicas, simplesmente deixam de ter qualquer função que os justifique.
Fabiano Caruso: o papel do ensino – e também das bibliotecas – é prover a uma pessoa capacidade cognitiva para que ela tenha cada vez mais autonomia para buscar a informação que precisa, e também, se reunir com outras pessoas para formar uma comunidade de interesse. A educação não está fazendo isso, colaborando com a autonomia intelectual das pessoas. Tampouco a biblioteconomia.
Roosewelt: Acerca da pesquisa acadêmica, suponho que se a ciência da informação possuísse arcabouço teórico mais embasado, já teria nas décadas passadas antecipado diversas possibilidades em relação a Web, por exemplo.
Fabiano: o que parece é que as pesquisas concentram-se intrinsecamente em fazer um alinhamento com oportunidades de empregabilidade em frentes de pensamento como gestão (unidades de informação, gestão do conhecimento), sociologia (paradigmas, paradigmas) e comunicação.
Alex: o cientista norte-americano Freeman Dyson causou ‘frisson’ ao sugerir a abolição do PhD, defendendo que a pós-graduação não foi feita para a média das pessoas. Nem poderia. É elitista por natureza. E “deve” sê-lo. Hoje, porém, as pessoas fazem mestrado e doutorado para conseguirem promoções no emprego, ou para tornarem-se professores universitários. Errado.
Bom professor é bom professor, não pesquisador. Certo, o ensino superior baseia-se no tripé ensino, pesquisa e extensão – isto já virou um mantra. Mas ser pesquisador significa dedicar tempo e esforços à… Pesquisa. Ser professor significa dedicar tempo e esforços ao… Ensino. E salvo raras e honrosas exceções, muitíssimo pouca gente consegue ser ambas as coisas. Até porque muitíssimo pouca gente consegue ser qualquer uma destas coisas, quanto mais ambas…
O que hoje vemos é um achatamento das exigências do ensino, um “nivelamento por baixo”, como se diz. O que antes se exigia no ensino superior (criatividade, inovação, rigor) hoje é solicitado apenas no doutoramento. Até os mestrados resumem-se à revisões de bibliografia. Resultado: pós-doc. Se hoje eu quiser ser o que era um mestre há 50 ou um doutor há 20 anos preciso ser “pós”-doutor. Poderia-se apostar que em duas gerações aparecerá algo acima desta graduação.
O que interfere no meu caso: sempre quis ser professor. Estudo para isso, e, enquanto não o sou, procuro meios de pagar as contas. Adentrei em um programa de pós ‘stricto sensu’. Para contribuir com o avanço do conhecimento e da pesquisa científica? Não especificamente – para ser professor, mesmo. Quer dizer que eu não quero, ou não posso contribuir com o avanço do conhecimento e da pesquisa científica? Não, muitíssimo pelo contrário. Quer dizer apenas que, para tanto, dever-se-ia exigir de mim muito mais.
O que torna o problema sistêmico. Muito do mau estado das bibliotecas por exemplo, deve-se a vários estratos sociais (para não falarmos, claro, do que cabe aos próprios bibliotecários), mas deve-se em essência, a um problema de formação.
Bibliotecários eventualmente trabalham com tecnologia de informação. Não é regra, mas é uma linha de atuação promissora a ser ainda mais explorada do que é. Mas deve ser explorada com seriedade. O que acontece é que boa parte das escolas de biblioteconomia, hoje, não oferece formação adequada nem nas matérias biblioteconômicas, nem nas adicionais – e o cidadão sai não sabendo se é um analista de sistemas ou um bibliotecário.
Eu me enquadraria como exemplo de bibliotecário que trabalha com tecnologia. Felizmente, há outros. Mas eles, no todo, formam uma ínfima minoria da parcela de bibliotecários que tem alguma relação com tecnologia – e, ainda assim, fazem trabalho de bibliotecário. Do universo geral a maioria não faz um trabalho competente nem como bibliotecário nem como analista de sistemas, ou passou a atuar com tecnologia exclusivamente porque, enfim, nunca teve nada em particular com a biblioteconomia.
Moreno: preocupação com o ensino e formação que tente contornar essas deficiências, já que elas de fato existem.
update: Aldo Barreto escreveu um texto interessante sobre as divergências entre os currículos acadêmicos, mercado de trabalho e geração Y
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Too bad que vocês não tem a cara de pau e a paciência pra entrar nas discussões com esses gênios malucos. Não sabem o que tão perdendo..
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