Músicos, os downloads os fizeram trabalhar!
Sim, isso mesmo, chega de moleza. Se antes, simplesmente se entrava num estúdio, e uma grande corporação da indústria fonográfica fechava e distribuía o “produto”, o download veio e acabou com isso, botando o povo pra rodar a baqueta.
Desde os primeiros processos contra o Napster, até o projeto de lei absurdo do senador Azeredo, e a mais nova piada promovida por Bush Filho, a lei apelidada de “PRO-IP ACT” que foi recentemente aprovada, é que estamos vendo uma briga que todos nos sabemos quem vai ganhar, nós.
O movimento do software livre, GNU, as licenças em copyleft, e agora o creative commons, mostram um esforço de tornar real o questionamento das leis de propriedade intelectual e os experimentos das novas formas de produção e de consumo do conhecimento, sendo livre, distribuído e acessado por todos, e que haja um bom proveito da liberdade adquirida.
Músicos entenderam que suas obras são uma forma de divulgação do seu trabalho, e por elas, eles têm que ser pagos…mas é tocando, e não mais fechando uma obra (CD, DVD etc) e aproveitando a boa vida dos direitos autorais. Notaram que agora há mais shows internacionais em lugares que antes nunca se esperava? pois bem garoto, vai ter que botar essa bunda gorda na estrada fiote, pra ganhar dinheiro com o seu fazer, sua música, da maneira que deve ser, com serviço.
As informações colaborativas, desde as redes P2P, torrents,wiki,etc…possibilitaram que houvesse interesses comuns para democratizar o acesso, disponibilizando, sem pedir licença, o conhecimento, irrestrito e compartilhado.
Que o conhecimento torne-se algo universalizado, itinerante, livre. Que aqueles que ainda não perceberam as possibilidades de criação, da renovação constante da cultura, abram os olhos, fiquem de olho, pois não vamos esperar.
A liberdade é a plena expressão da vontade humana, e não há copyrights e leis absurdas que impeçam a boa nova.
Não digam que não avisei.
14 respostas para “Livre Conhecimento”
Para quem ainda não sabe bem o que é Creative Commons, temos links didáticos aqui: http://biblio.crube.net/?p=600
Cauê, concordo em partes com o post. As licenças alternativas como CC e GNU tem um papel importante pois são ferramentas para que o autor escolha a forma que ele pode exercer seus direitos. Mas prioritariamente, o direito é do autor e ele é que deve escolher o que deve fazer com ele. Eu acabei de ler a opinião do Robert Smith (vocalista do The Cure) e concordo com ele. Ele pode fazer o que quiser com um direito que é dele. Esse é o problema das leis de direito autoral (a brasileira é bem flexível até)… obrigar o autor a seguir um modelo comercial, sem ter outras opções. Mas obrigar a todos usarem uma licença livre cairia no mesmo erro.
Outro artigo relacionado a este post:
http://www.gnu.org/philosophy/copyright-and-globalization.pt-br.html
Tiago, também concordo em partes.
Uma coisa complicada é deixar apenas nas mãos do autor, como se fosse direito exclusivo dele. Não acho correto. Pq eu posso juntar um monte de conhecimentos coletivos num texto, numa música, num filme, ou seja no que for, e o resultado ser exclusivamente meu? Até onde eu posso usufruir do trabalho, criatividade, etc de inúmeras pessoas e não compartilhar com a sociedade o pouco que fiz em cima dessa imensidão?
Do jeito que vc colocou, eu poderia escrever um livro, vender bem caro e não permitir que seja disponibilizado em bibliotecas?
Boa discussão essa. Mas eu acho duas coisas.
Primeiro, o dinheiro dos direitos autorais sempre foi muitíssimo menor que o dinheiro dos shows. Rolling Stones e Beatles que o digam. A questão é que com os direitos autorais e a venda de discos se movimenta uma indústria, se empregava gente e se distribuia renda. Com essas facilidades para pirataria, a indústria fonográfica morreu. A arte, não. E os músicos, que já não ganhavam dinheiro antes, acharam bom por conta da distribuição.
Segundo, nem toda indústria é fonográfica e isso de “conhecimento universalizado, itinerante e livre” é conversa pra boi dormir. Antes da CC já se fazia tudo o que elas permitem, elas são apenas uma forma de “legalizar” o uso com a consciência do autor.
Diego, eu acho que se eu reúno em um texto seu pensamento, o de Tiago e o de Platão, o texto é criação intelectual minha, só minha. Eu devo, é claro, fazer as devidas citações.
Tiago, para mim é isso mesmo. O direito é do autor e ele faz o que achar melhor. Isso é liberdade.
O pior de tudo isso é observar que há uma queda grande de qualidade quando há pouco incentivo para a produção intelectual.
Então, eu acho que esse é um modelo de negócio que funciona bem para a música. Distribuir faixas de graça e vender o show e o artista, mas fico pensando em como aplicar o mesmo modelo para outros conteúdos digitais… como o livro, por exemplo. Distribuir o livro e vender sessões de autógrafo do autor, não me parece muito viável… a problemática dessa história de livre distribuição é criar uma forma de deixar todo mundo feliz, não só o consumidor final. Se o artista não se sentir motivado, a produção pode diminuir… ou talvez o futuro seja de artistas amadores, que tocam seus projetos entre o trabalho e o lazer…
Então, Gustavo: eu poderia escrever um livro, vender caro e não permitir que seja disponibilizado em bibliotecas?
E não permitir obras derivadas? Só o autor decide o que pode e o que não pode?
Minha humilde opinião vai de encontro a do Tiago, o direito é do autor, sempre baseamos nossas descobertas no que veio antes de nós, Einstein provavelmente não teria feito a sua teoria da relatividade sem as descobertas de Isaac Newton, os Beatles não existiriam sem Elvis Presley (Lenon disse isso), o fato do autor usar aquilo que já foi feito não tira o mérito e o direito dele de autor.
Eu particularmente não sei aonde vamos parar com isso de licença livre, veja bem, não sou contra, uso software livre no meu trabalho e desenvolvi um software livre, mas tenho muitas dúvidas de como seria uma economia totalmente livre, vejo muitos projetos baseados em software livre não saírem por falta de pessoal, é difícil encontrar profissionais que realmente saibam o que estão fazendo ao usar um sendmail, por exemplo, é verdade, muitos projetos “não livre” também fracassam, ou seja, o fracasso de um projeto não está diretamente ligado ao fato de ele ser livre ou não.
Se vc pensar bem, os chamados profissionais liberais (médicos, advogados, etc) não cobram por um produto, simplesmente vendem seu serviço, neste sentido isso não é muito diferente do que os sapateiros faziam na idade média, se vc tentar juntar essa idéias dos profissionais liberais com que o Diggs disse em relação ao fato de prestadores de serviços e artistas se tornarem amadores, estamos voltando a idade média?
Sinceramente, acho que não, mas há um problema, prestação de serviço não escala, produtos sim, não dá pra aplicar o Fordismo (linha de produção) a prestação de serviço, ou seja, para um grande empresário lucrar mais terá de contratar mais em uma proporção direta, mais serviço, mais empregados, mas diferentemente de um carro, não dá pra fazer um serviço, deixa-lo num galpão pra vender depois, uma empresa baseada somente em prestação de serviço teria que ter um fluxo muito grande de trabalho para conseguir manter seus funcionários, pois em países como o Brasil um empregado é muito caro, empregar e demitir é muito caro, quem sabe isso possa impossibilitar a própria existência do grande empresário no Brasil. Algumas empresas já fazem isso, Red Hat, Ubuntu, apache software foundation, mas elas ainda são minoria.
Com tudo isso que eu penso, a única conclusão viável é que estamos no mínimo em um processo de contestação do capitalismo, digo contestação, pq não acredito que o movimento livre seja um movimento comunista, tem muita gente ganhando dinheiro com isso, mas acredito que estamos em uma fase de transição profunda, até mesmo pq o capitalismo do jeito que está, não está funcionando (crise mundial, o mais estranho é que para combater a crise eles estão restringido a liberdade do mercado), mas uma coisa é certa, as pessoas vão continuar querendo/precisando comer, dormir, cuidar dos seus filhos essas coisas, tornar o processo de produção de seja lá o que for amador não funcionará, pois no final das contas, ninguém quer trabalhar de graça, ou seja, voltando ao eu disse no começo, o autor é o dono da idéia, ele até pode publica-la, fazer um protótipo, por hobby ou para ganhar notoriedades, mas dificilmente, alguém construiria uma fábrica de carros e trabalharia nela em tempo integral se ela não desse a ele meios para a própria subsistência.
Diego, o autor pode fazer o que quiser, pode até mesmo jamais publicar sua própria obra. É um direito. Concordo com você quanto a produção diminuir, e temo é que ela acabe mesmo piorando, e aí a gente cai no amadorismo da idade média, apesar da exposição do Luix. Pois as pessoas que poderiam se dedicar exclusivamente a isso e viver, vão precisar dedicar seu tempo a algum ganha pão qualquer. Enquanto que vagabundos vão ter mais tempo para distribuir e disseminar suas produções. Enfim, é um cenário nada agradável.
Olá Gustavo,
Pierre Lévy no seu livro Cibercultura faz uma interessante metáfora sobre arca de Noé, muito resumidamente, ele diz que todos nós seremos Noés do ciberspaço selecionando as informações mais relevantes, como o próprio Noé fez com os animais, mas pense bem, será que isso é bom, será que cada um de nós está pronto ou até mesmo querer ser um Noé da informação, provavelmente não, isso abriu um leque de possibilidades e emprego para nós profissionais da Informação, veja bem, o que começou a crise virou possibilidade.
Evidentemente, a “crise” gerada pela contestação da liberdade, direito e uso da produção intelectual também vai gerar oportunidades, pra quem? Só o futuro pode disser. Na minha longa divagação pelo assunto, pensei no seguinte: é diferente fazer um CD de música do que fazer um carro, fazer um carro tem um custo muito maior, dificilmente teremos um empresa automobilística com filosofia livre, eu insisto, tudo é uma questão de custo, no século XX as grandes empresas ganhavam pela escala (editoras, gravadoras etc), agora para alguns produtos essa escala está capengando, pois como eu disse é fácil ganhar dinheiro em escala com produtos, mas com serviço nem tanto, mas uma coisa não muda, a necessidade das pessoas, as pessoas vão continuar precisando de texto e músicas, agora como esses produtos serão comercializados, eu não sei, mas oportunidade vão aparecer, enfim a bola ta na área, agora que será o artilheiro a acerta o gol, vai saber!!
Olá Luix! É por essas e outras que eu não gosto de Pierre Levy. De qualquer forma, concordo com você quanto ao fato de que esses produtos vão ser comercializados de alguma forma que ainda não sabemos exatamente como será. De qualquer forma, espero que seja algo que incentive a produção de qualidade. Abs.
Adorei o post! Acho que daqui pra frente só pensamento não dará pra fazer download.
A produção intelectual e o seu modelo de ganhar dinheiro já fez muito milionário e finalmente foi afetado com as novas tecnologias.
O acesso ao produto mudou e não lembro se na história alguém com dinheiro defendeu os camponeses ingleses na época da revolução industrial. É isso. Novos paradigmas!. abs.
Excelente reflexão Cauê, eu acredito que o final desta historia seja este que você esta prevendo. So que teremos muita turbulencia antes, acredito que a industria cultural tentar todas as cartadas, e compete a sociedade dar a resposta, simplesmente mudando sua forma de consumo. Como você citou, as licencas Creative Commons, o Open Source e outras formas livres de distribuicão devem ser consumidas em detrimento do produto sob copyright.
É a unica forma eficaz de combater a ditadura do capital.
Obrigado por compartilhar! Tudo é realmente diferente do passado.