Visitei a Biblioteca Nacional de Brasília (Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola), aquela controversa, e dei uma avaliada enquanto usuário comum. Algumas impressões:
a entrada da biblioteca é através de uma única porta minúscula, sem saber exatamente se aquilo é a frente ou os fundos da biblioteca. Como os vidros são “fumados”, você não consegue ver absolutamente nada dentro da biblioteca. É preciso chegar bem próximo do vidro para conseguir ler um papel A4 que diz “entrada da biblioteca”. Por que não fazer uma mega letreiro em neon piscante avisando que é ali a entrada da biblioteca? Eu achei a entrada bastante confusa, desestimulante e nada convidativa.
Na recepção existem roletas eletrônicas, mas que ainda não estão ativadas. Existe um balcão de recepção a esquerda das roletas, com 3 estagiárias prestativas, mas não muito bem humoradas. Segundo erro grave, você tem um porta que é tão desestimulante a ponto de ser agressiva, e agora se depara com roletas eletrônicas, barreiras de rfid (talvez) e segurança. Isso é um presídio, um banco ou uma biblioteca nacional?
Eu só queria visitar, já que nem mesmo poderia consultar qualquer coisa, já que o acesso livre ao acervo só está programado para julho de 2009. E talvez utilizar a internet, se fosse possível. Para usar a internet e circular nos andares superiores, eu tive que ceder minha identidade, endereço residencial e cpf, para criar uma conta no sistema, liberando o acesso aos outros andares da biblioteca (acervo) e internet (térreo).
Mas eu sou um mero visitante. Até entendo a necessidade de criação de conta pra uso da internet, já que o sistema funciona como uma lan house, com tempo estipulado e tal. E até entendo o registro por razões de segurança. Mas por que a biblioteca precisa saber do meu endereço residencial (já que não existe empréstimo domiciliar) e meu cpf?
Um outro recepcionista fez questão que eu fosse ver uma tal cadeira multimídia no terceiro andar. Lá fui eu, as cadeiras são interessantes, ficam viradas de frente pra esplanada e são na verdade cadeiras de massagem com um monitor acoplado. Você pode ficar ali uns minutos, caso queira tirar um momento de relaxamento entre as leituras e pesquisas. Mas nenhuma delas estava funcionando. Estavam lá, cerca de 10, ainda desativadas.
As cadeiras de estudo (todas individuais) parecem bem confortáveis. Boa ergonomia, boa iluminação. Quase todas estavam ocupadas (talvez umas 200 ou 300, no total), tanto no segundo como terceiro andar, e mais de 60% das pessoas (um estimativa minha) estavam com laptop. Perguntei pra bibliotecária mais próxima se havia conexão wifi disponível, e ela disse que sim. Ponto pra biblioteca nacional de Brasília.
O acervo físico é separado por vidro, aquários. Reparei que algumas estantes tem um acabamento de madeira, o que é bem mais bonito do que as estantes tradicionais de metal. Os livros ainda estão sendo processados, já tem número de lombada, mas além disso, não vi nenhuma indicação visual de número de chamada, seja nas próprias estantes, ou ao redor do aquário.
Existem salas fechadas, para trabalhos em grupos.
Os banheiros são limpos, o que é um bom sinal. Banheiro limpo é o melhor reflexo das condições da instituição.
Voltei pro térreo. Os blocos de piso do salão de internet estão soltos. Mesmo que eu quisesse manter o silêncio, não conseguiria. Há uma grande variedade de jornais do dia, e de dias anteriores. Poltronas de couro excelentes. Há algumas revistas de grande circulação. Essas revistas estão expotas em duas prateleiras, com mais de 1,60m de altura. Quem tem menos de 1,60m sequer enxerga as revistas da estante superior, quanto mais alcançá-las.
Fui usar a internet. Primeiro teste óbvio: orkut. A biblioteca bloqueia orkut. Pronto, já não queria nem mesmo ficar sentado ali. Desestímulo total. O único browser disponível era o Internet Explorer. Não testei pra ver se eu conseguia fazer alguma tipo de download. Você não tem acesso à torre. Os cabos vêm do alto, direto pros monitores, teclado e mouse, que ficam em blocos de 3 ou 4. São cerca de 50 computadores, talvez mais. A minha tela ficou piscando repetitivamente, como se fosse mal contato. Desloguei, tentei usar outra máquina e não achei nenhum monitor com o campo de login aberto. Talvez eu tivesse que solicitar ao atendente. Mas pelo desgaste, eu resolvi ir embora.
As impressões gerais são muito boas, já que a biblioteca é mais um marco arquitetônico de Brasília, é muito bem localizada, próxima do terminal rodoviário, e na esplanada, visível para milhares de transeuntes que ali circulam diariamente.
Fui muito bem atendido quando precisei, minhas perguntas foram respondidas pontualmente.
A biblioteca atende normas de acessibilidade, e mesmo sem querer (caso não tenha realizado um projeto de usabilidade com base na experiência do usuário leigo), ainda assim a visitação é bem simples e prazerosa. Seria muito difícil se perder lá dentro, em termos de ausência de sinais, de organização espacial óbvia ou atendimento dos funcionários.
Existem algumas falham bastante específicas, essas que eu citei acima, mas que não são graves e podem ser resolvidas facilmente. Mas é preciso ter bastante cuidado porque algumas dessas falhas são capazes de espantar centenas de usuários potenciais, como a porta de entrada, cadastro e acesso restrito à internet, por exemplo.
Quando vocês estiverem visitando bibliotecas ou mesmo nas bibliotecas em que trabalham todos os dias, tentem se colocar por alguns instantes na condição de usuário comum. Imaginem o usuário mais leigo que poderia aparecer na biblioteca, ou a criança mais jovem capaz de ler, ou o idoso, o deficiente físico, o desempregado, o morador de rua, etc, e perceba como o ambiente físico e as instalações promovem uma boa experiência entre o leitor pesquisador e os livros e recursos que a biblioteca oferece.
Como eu falei nas últimas palestras, no Brasil, pouco se estuda em termos de design associado à biblioteconomia. Pode existir um discurso de escassez de recursos financeiros, mas acho que esse talvez não seja mais o caso para a maioria das bibliotecas que comportam grande número de usuários e acessos.
Payback movies SIBI USP – Parte 2 – Moreno Barros from ExtraLibris on Vimeo.
Bibliotecários tendem a falar para bibliotecários, utilizando lexicon, jargões, que não são compatíveis com a vida dos seus usuários. E isso se extende mais claramente no que concerne ao design, ao espaço físico, disposição de estantes, sistemas de classificação, sinalizações, etc.
Talvez um pouco mais de exercício, possa resolver grandes deficiências que existem hoje. Existem excelentes práticas e elas podem ser replicadas.
Deixem suas impressões, sugestões e reclamações.
Deixe uma resposta para Aline FerrariCancelar resposta