Bradbury e as Bibliotecas Públicas

Dica e texto inicial da Sibele Fausto:

Um texto que vale a pena ser postado, pois aborda Ray Bradbury e sua relação com bibliotecas públicas. Bradbury é autor de Fahrenheit 451, ficção que todo bibliotecário deveria ler.

Formado em bibliotecas, escritor paga sua dívida

Jennifer Steinhauer

Ventura, Califórnia – Quando alguém que está perto de fazer 90 anos já escreveu dezenas de romances, contos e roteiros de filmes famosos e realizou seu objetivo de fazer uma viagem simulada a Marte, o que falta fazer?

“Bo Derek é muito minha amiga, e eu gostaria de passar mais tempo com ela”, diz Ray Bradbury sobre a atriz de Hollywood que apareceu em mais de duas dúzias de filmes desde o final da década de 70.

Uma resposta improvável, mas Bradbury, escritor de ficção-científica, é muito específico em sua excêntrica lista de interesses e em como tenta concretizá-los em sua idade avançada e no estado de relativa imobilidade.

Isto é uma sorte para as Bibliotecas Públicas do Condado de Ventura, nos EUA – porque, entre as paixões de Bradbury, nenhuma é tão intensa quanto seu antigo entusiasmo por salas cheias de livros. Seu romance mais famoso, “Fahrenheit 451”, que trata da queima de livros, foi escrito em uma máquina de escrever alugada no porão da Biblioteca da Universidade da Califórnia em Los Angeles; seu romance “Algo Sinistro Vem Por Aí” contém uma cena de biblioteca seminal.

Bradbury fala frequentemente em bibliotecas de toda a Califórnia e, no final de junho, esteve em Ventura para uma palestra beneficente para a Biblioteca H. P. Wright, que, como muitas outras do sistema público estadual, corre o risco de fechar as portas por causa do corte de orçamento.

“As bibliotecas me criaram”, disse Bradbury. “Não acredito em colégios e universidades. Acredito em bibliotecas porque a maioria dos estudantes não tem dinheiro. Quando me formei no colégio, durante a Depressão [dos anos 1930], não tínhamos dinheiro. Eu não pude ir à faculdade, então fui à biblioteca três dias por semana durante dez anos”.

Os dólares do imposto predial, que fornecem a maior parte do financiamento das bibliotecas no Condado de Ventura, caíram precipitadamente, deixando o sistema de bibliotecas com um buraco de aproximadamente US$ 650 mil. Quase a metade dessa quantia é atribuída à Biblioteca H. P. Wright, que atende a aproximadamente 65% dessa cidade costeira de 80 km a noroeste de Los Angeles. Em janeiro, a Biblioteca Wright soube que, a menos que conseguisse US$ 280 mil, seria fechada. O grupo que levanta fundos para a entidade tem até março de 2010 para atingir essa meta.

A conversa com Bradbury custa US$ 25 por pessoa e inclui uma projeção de “The Wonderful Ice Cream Suit” [O maravilhoso traje de sorvete], filme baseado em seu conto de mesmo nome.

O objetivo financeiro do evento não é uma solução a longo prazo. Isso só aconteceria se os impostos territoriais fossem aumentados ou os eleitores aprovassem um aumento de meio centavo no imposto das vendas locais em novembro, parte do qual iria para as bibliotecas.

Ameaças fiscais às bibliotecas irritam profundamente Bradbury, que passa todo o tempo que pode conversando com crianças em bibliotecas e incentivando-as a ler.

A internet? Não o provoque. “A internet é uma grande distração”, bradou Bradbury em sua casa em Los Angeles. “É insignificante, não é real”, ele continuou. “Está no ar, em algum lugar”.

Quando não está angariando dinheiro para bibliotecas, Bradbury ainda escreve durante algumas horas todas as manhãs; lê George Bernard Shaw; recebe visitantes, incluindo repórteres, cineastas, amigos e filhos de amigos; e ainda assiste a filmes em sua TV gigante de tela plana.

Ele ainda pode ser visto regularmente na Biblioteca Pública de Los Angeles, que visitou frequentemente na adolescência. “As crianças me perguntam: ‘Como também posso viver para sempre?’’’, disse. “Eu lhes digo: façam o que vocês amam e amem o que fazem. Essa é a história da minha vida”.

Fonte: Folha de S. Paulo, 13. jul. 2009, encarte de textos selecionados do The New York Times, p.6.


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Comentários

2 respostas para “Bradbury e as Bibliotecas Públicas”

  1. Avatar de Rafael
    Rafael

    sei coé cauê, to ligado, mas só disse que essa discussão, que nada contribuiu, já tinha caído em assuntos pessoais, e isso que acho q o moreno ou o murakami poderia sim ter bloqueado ou mesmo um filtro, mas ai cai no campo da censura e isso é outro assunto..rs..o ponto que queria destacar é so o lance de cair no pessoal, de forma negativa.
    Julio, igual o cauê disse ai, não precisa dar cartaz para que é um bosta, deixa quieto, apesar de ter te conhecido so uma vez, no enebd em salvador, admiro o que fizeste nao história da biblio, aquela velha historia, nos encontros a gente aprende mais num bar do que ficar num alditório o dia inteiro, é importante ter alguem que seja um agregador, abraçao ae

  2. Avatar de rafael
    rafael

    bradbury, é um dos grandes prosadores da literatura mundial, além de ser o padrinho, no bom sentido, literário dos bibliotecários.
    long live, mr. bradbury!

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