Em 2003 eu escrevi um trabalho sobre referência digital online, explicando a diferença entre processos de referência online assíncronos (email, blog) e síncronos (chat, skype). Desde aquela época e antes, várias bibliotecas de outros países passaram a adotar algum serviço de chat para ampliar o serviço de referência. Eu tentei acompanhar o oferecimento do serviço de referência por meio de chat no Brasil – lugar onde as pessoas usam muito chat (chat uol, mirc, icq, msn) – mas não encontrei nada de interessante.
A ausência de um serviço de referência online síncrono na biblioteca gera para mim dois impasses: o primeiro, enquanto pesquisador, é que eu não tenho como me comunicar com a biblioteca de maneira simples e veloz, para resolver questões elementares, de uma maneira natural para o meu perfil de usuário. A segunda, enquanto bibliotecário, é que por diversas vezes ao longo do dia, eu tenho a necessidade de entrar em contato com outros bibliotecários, para pedidos, intercâmbios e resolução de problemas, e não tenho uma maneira rápida e direta de fazer isso.
Partindo dessa premissa estritamente pessoal, mas que se enquadra em uma escala muito mais ampla, eu sugeri que a biblioteca em que trabalho instituisse um serviço de chat na intenção de resolver ou equilibrar os dois impasses mencionados acima: oferecer um novo, porém trivial serviço simples da biblioteca, que se adequa a um determinado perfil de usuário pesquisador, e garantir agilidade e flexibilidade no trabalho diário dos bibliotecários de referência.
Na prática, o que eu fiz foi apenas observar ao longo desses anos como as bibliotecas estavam utilizando o serviço de referência online via chat e que tipo de ferramental estava sendo aplicado. Não houve nenhuma surpresa ao constatar que as bibliotecas usam as mesmas ferramentas mais comumente utilizadas por seus usuários – no Brasil hoje, poderíamos dizer MSN e Gtalk. Em outros países, além do MSN e do Gtalk, IM da AOL, Yahoo messenger e Skype, variando de país para país.
Entretanto, a solução mais adequada encontrada pelos bibliotecários, e abraçada pela própria comunidade desenvolvedora do produto, foi o widget do Meebo, o Meebo Me.
Pra quem não sabe, o Meebo é um cliente de chat web based, que agrega diversas contas em um único local. Então digamos que você tenha uma conta do msn, uma do gtalk e uma do icq. Em vez de ter que ter os três softwares instalados localmente e ter que se logar nos três para poder conversar com seus amigos, o meebo agrega todos as contas em um único lugar, e melhor, acessível de qualquer computador. (Depois que começaram a bloquear o msn nas escolas e nas empresas, as pessoas passaram a usar esses clientes. Além do meebo existem vários. Em casa mesmo eu uso o digbsy, que além dos serviços tradicionais, agrega o chat do facebook).
Mas o widget do meebo foi um pouco além. Depois que você cria uma conta no meebo, você pode solicitar a geração de um widget, que é um código em flash que pode ser acoplado em qualquer página de site e funciona como uma janela de mensagens instantânea. O Meebo Me trabalha como um conector entre a página em que está instalado e qualquer pessoa que visite esta mesma página, seja um website, um blog, etc. Tudo o que o visitante precisa para conversar com você é um browser com suporte a Flash (e a maiora dos browsers hoje possui).
Não há nenhuma exigência prévia para poder se comunicar. Nas contas do msn ou do gtalk por exemplo, você tem que autorizar a pessoa como sua amiga/contato antes de conversar com ela. No ambiente da biblioteca, isto não faz muito sentido se a idéia é apenas oferecer uma solução rápida e simples. Mas ainda assim, nada impede que se ofereça múltiplas formas de contato. Se o usuário for assíduo e quiser ter a biblioteca em sua lista de contatos do msn ou do gtalk, lá está o email, basta incluí-lo. No caso do meebo, a diferença é que qualquer pessoa pode estabelecer uma conversa com a bibliotecária sem qualquer exigência de identificação (o que levanta argumentos em relação à segurança e alcance da ferramenta, mas tudo isso já foi exaustivamente discutido).
Existe uma vasta literatura sobre o uso do widget do meebo como ferramenta de referência online em bibliotecas e eu não preciso me estender.
Em poucos minutos eu configurei a conta, gerei o widget, entreguei o código para o responsável pela página da biblioteca, instalei um notificador no meu browser, e pronto, o serviço está no ar.
Existem prós e contras, mas no geral, é um bônus.
Eu redigi um documento simples para utilização interna do widget do meebo na nossa biblioteca, que na verdade é um bootleg de outros documentos tratando do mesmo assunto, que encontrei disponível na web. Vocês podem ver, e entender um pouco melhor a proposta por trás do uso da ferramenta Hannah Montana: The Movie movie download . E estou disposto a ajudar quem tiver interessado a fazer o mesmo em sua biblioteca, e por acaso, encontrar alguma dificuldade.
E bibliotecários, eu sugiro que ofereçam alguma ferramenta de chat em seus sites, porque isso certamente facilitaria a nossa vida enormemente (eu por exemplo trabalho com acervo de engenharia e tecnologia, essencialmente digital, pesquisa e solicitação de artigos, e as vezes preciso entrar em contato rápido com bibliotecários da USP, do ITA, da UFRGS, da UFPE, e a única forma é enviar emails, que demoram no mínimo algumas horas para serem respondidos).
Infelizmente em uma pesquisa recente que fiz, não encontrei nenhuma biblioteca no Brasil utilizando msn, gtalk ou meebo como um serviço do estilo “fale com a bibliotecária”. Talvez existam, e eu espero que existam, mas precisam ser melhor divulgadas e evidenciadas.
Aqui está um vídeo explicativo sobre o uso da ferramenta na biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ:
Então, caso vocês precisem, podem visitar a página da Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ, e falar com a bibliotecária. A bibliotecária no caso, sou eu. Eu ainda não fiz minha operação de mudança de sexo, mas por enquanto, achei melhor utilizar o termo no feminino, já que é naturalmente mais aceito pelos usuários da biblioteca.
O nosso gtalk é: bi**************@gm***.com
e o msn é : bi**************@gm***.com (gmail mesmo, não hotmail)
15 respostas para “Referência digital online via msn, gtalk e meebo – "fale com a bibliotecária"”
Acho bobagem isso de bibliotecária ser mais aceito… Acho que a questão de gênero pouco importa quando você tá fazendo uma pesquisa. Na verdade, seria uma oportunidade pra mostrar que sim, existem bibliotecários tb…
Mas enfim né… A operação é pra quando mesmo? ^^
Não vamos desviar o foco do post 🙂 , mas é que já virou clássico o “ask a librarian”, que funciona muito bem pro masculino ou feminino. Eu sinceramento acho mais natural, convidativo e apelativo um “fale com a bibliotecária”, do que “fale com um bibliotecário”. Mas na real, no processo de referência, eu estou pouco preocupado se é bibliotecária ou bibliotecário, até porque não estou face to face com ela(e).
É mais uma opção de marketing mesmo, de evitar jargões e lexicon desnecessário que não facilita a vida do usuário.
Cara, legal, fiquei com vontade de ter o Meebo onde eu trabalho! Vou ver se adoto. Se tiver dificuldade, entro em contato com você.
Gostei de saber que agiliza o contato com outras bibliotecas, pois eu peno com e-mails que são ignorados e me obriga a telefonar pra instituição pra conseguir informações (sem contar que na minha instituição conseguir linha é outra chatice). Se puder ter todos ali no cantinho da tela pra me responder de imediato, beleza!
Existem iniciativas nesse sentido na biblioteca da PUC RJ. Mas tipo era pra ser algo normal e comum, e não é. Mesmo bibliotecas grandes como o Senado e STJ não oferecem isso. Quem sabe um dia.
O problema em relação a widgets e soluções web para chats é que – principalmente em instituições públicas – o acesso é bloqueado.
No momento trabalho em uma Incubadora de Projetos Tecnologicos e se eu precisar fazer uma consulta rápida a Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ, não é possível via web por causa das restrições de acesso.
Ou seja, as políticas de Gestão de TI geralmente não levam em consideração os Serviços de Comunicação e Informação emergentes – a meta é proteger os sistemas internos e fazer uma boa manutenção da política de cargos e salários de desenvolvedores. Da mesma forma que, as políticas de Educação no Brasil também não inserem a aprendizagem informal e colaborativa tendo o uso das Bibliotecas neste contexto.
de todo modo, o oferecimento de um serviço de referência nesses moldes já serve de argumento para que se desbloqueie o acesso
Infelizmente nas salas de aula alguns professores não ensinam estas tecnologias emergentes. Eles só teorizam. Então cabe a nós, bibliotecários, sermos pró-ativos nesta questão afim de oferecer maior qualidade no atendimento e comodidade ao usuário.
Eu há pouco tempo fiz meu TCC entitulado “blogs no serviço de referência” naqual escrevi um cápitulo sobre o atendimento presencial e online. No Brasil, poucas bibliotecas utilizam este serviço. Quem quiser uma cópia do meu TCC m mande um email: ro*********************@gm***.com
Abraços a todos
Olá Moreno,
Gostei muito da ideia, e de sua dica. Antes de colocar na página da biblioteca em que trabalho, fiz um teste no meu blog (http://elderlopes.blgspot.com ), mas,aparentemente, não funcionou.
Você tem alguma ideia do que aconteceu?? Ou pode me ajudar a solucionar?? Eu já loguei pelo site do meebo, pelo meu e-mail (yahoo), mas só aparece off-line.
Agradeço.
Elder Lopes
Faltou uma letra ao digitar o endereço do blog. É: http://elderlopes.blogspot.com
Não está funcionando.
O que pode ser?
Olá Moreno,
Funcionou, muito bom mesmo. Espero que essa ideia seja adotada de forma efetiva. É incrível o acesso à informação com essa comunicação em tempo real.
Obrigado.
Abraços.
Elder Lopes
Eu espero, como usuária e como bibliotecária ver esses serviços e mais bibliotecas. Logo. logo uma delas vai ser a que eu trabalho (biblioteca do IM/UFRJ). E felizmente, pude contar com a ajuda desse power user bibliotecário: Moreno Barros^^
Moreno, esse seu serviço é, não só, uma grande contribuição para melhorar as bibliotecas,mas também, uma forma de derrubar certos pré-conceitos existentes, nas instituições, sobre essas ferramentas. Isso é a prova de que quando se da proposito e se faz bom uso das coisas tudo funciona.
Parabens
Oi Moreno, como vai?
Finalmente escrevo…rs
Parabéns pelo blog e pelos posts.
Acho que temos de fazer uma corrente/campanha para modifcar essa cultura. Conte comigo. Vou fazer um spam do bem para minhas listas. Os bibliotecários precisam se expor mais e conhecer mais a realidade de seus usuários para poder melhorar os serviços. Acho que os Conselhos regionais poderiam aderir a essa campanha e veicular em seus canais. Precisamos abrir as porteiras!Aderir a todas as ferramentas de comunicação possíveis. Quanto ao sexo, sugiro vc não fazer a cirurgia. Melhor deixar no gênero masculino, pois abrange os dois sexos. Aliás, tenho visto muitos homens buscando a nossa profissão.
Vamos pensar nessa campanha…
abração,
Renate
Muito obrigado! Eu não falo muito bem em Português mais eu posso entender.
I was looking something like that for “my” library in Belgium. Thank you for the explanation 🙂
[…] anos eu uso alguma ferramenta de referência online em tempo real, então estou paralisado agora, depois que o Meebo foi comprado pelo Google e o serviço foi […]