Onde estamos?

Texto de Ricardo Queiroz Pinheiro

Poderíamos parafrasear o bibliotecário como um profissional a procura de um rótulo. Esse grave problema identitário já foi discutido em diversos textos que propõem fórmulas e receitas para que, em um passe de mágica, a solução, a despeito de qualquer processo, viesse à tona.

Há muito tempo se discute, entre bibliotecários, qual o perfil que deve ter o profissional para ser atuante e protagonista na “era da informação”. E mais: se de fato com o advento da era da informação a nossa área de atuação ganhou maior abrangência e nos tornamos posto chave dentro do quadro de profissões

A mudança de nome dos cursos de biblioteconomia foi um sintoma evidente dessa preocupação, carregada de formalismo e sempre em detrimento de um conteúdo que efetivamente mude o rumo do fazer profissional e da produção cientifica produzida.

Alguns fatores devem ser levados em conta: a relação entre mundialização e o poder e da informação, o deslocamento da produção de conhecimento, as propriedades recombinantes do uso da informação e o impacto que essa incide no indivíduo e nos grupos.

O aumento da circulação de informações dentro das velhas e novas mídias é crescente, mediação e gestão da informação são essenciais, o que não garante que os espaços tradicionais, que supostamente concentram essas informações, sejam o lugar ideal para atender essa demanda.

A partir desse raciocínio, discutir a relevância desses espaços é o primeiro passo para iniciar o diálogo e sua consequente transformação.

A maior procura e utilização da informação, esta provado, não colocou as bibliotecas e os centros de informação automaticamente na ponta de lança de prioridades da sociedade. Quando muito as utilizações destes espaços se diluem em interesses multifacetados, que mais problematizam do que reforçam seu papel como instituição.

O “agente da informação” deve trabalhar com foco nos suportes e conteúdos informativos ou nas pessoas que deles necessitam? Se a resposta for com os dois, onde que se estabelece essa relação de forma concreta? O pilar de um centro de informações é o seu acervo ou são seus usuários?

Aparentemente são esses fatores indissociáveis, e essa pergunta pode soar descabida, mas a prática nos leva a crer que não. A falta de diálogo entre essas partes, não falo aqui de qualidade e totalidade, é causa das maiores distorções e anacronismos presentes, e nem sempre são vistas como um problema objetivo a ser superado.

Em primeiro lugar o que representa a era da informação? A informação e o conhecimento produzido a partir dela, até onde sabemos não é um elemento novo na vida da humanidade.

A distinção entre informação e conhecimento é muito tênue, as informações não ficam soltas no ar e elas são processadas assim que a recebemos. Mas há uma diferença entre ambas nos usos e nas relações que se seguem logo após a recepção.

A produção de conteúdo informativo e a sua relação com a produção de conhecimento é o grande dilema a ser desbaratado sem cairmos nas interpretações mecanicistas e esquemáticas.

O instante exato onde se apresenta a importância de um profissional da informação é justamente o espaço entre a recepção e processamento da informação por parte daquele que a procura, e é ai que ele deve se fixar como agente ativo e participar no processo de construção do conhecimento.

Portanto a mediação da informação deveria ser o principal foco de interesse e expansão do profissional da informação, em detrimento de nomes de prédios, de cursos universitários e de jargões vários criados.

O assunto não encerra nessas premissas, há espaço para várias discussões…

Bibliotecário – Trabalho pela democratização da informação e do conhecimento. Formado em biblioteconomia, 1994 na FESPSP, atuo em biblioteca pública há 15 anos em São Bernardo do Campo.

Publicado em: http://ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=477


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