Semana passada no facebook tava rolando aqueles posters motivacionais/demotivacionais, alguns mais ou menos engraçados que outros, a maioria fiel à realidade. Acho que a galera superou a urgência de ter que ficar se explicando pra leigos e passou a rir de si mesma.
Serviu de lembrete, para ninguém esquecer, que antes de uma crise de identidade as pessoas precisam ter identidade. A vasta maioria dos alunos de biblio ingressa no curso sem ter sido frequentadora assídua de bibliotecas ou as vezes sem nunca mesmo ter visitado uma. Cresceu em um ambiente sem qualquer promoção ou fomento à leitura, tendo à disposição bibliotecas escolares sinônimas de local de castigo ou mofo, ou tendo que recorrer à bibliotecas públicas ruins porque as escolares simplesmentes não existiram. E os bibliotecários formados, vasta maioria, continua sem ler, sem frequentar bibliotecas. Claro, há alguns casos bastante distintos que fogem essa tendência. Mas tô falando alguma mentira? Não né… (quero ver de vocês a ficha de inscrição na biblioteca, e não vale da biblioteca onde trabalham)
Sendo assim, por que tanta impaciência ao ter que explicar o “biblio-quê?” ou achar ofensivo e de mal gosto os posters demotivacionais? Estariam plenamente propensos a fazer as mesmas perguntas ou ter a mesma impressão não tivessem entrado na escola de biblioteconomia.
O que me preocupa mesmo é que, os bibliotecários reconhecendo essa crise de identidade ou de imagem ou de estereótipo, o que quer que queiram chamar, continuam fazendo errado (e aqui eu podia criar um novo meme bibliotecário no estilo “biblioteconomia: você está fazendo isso errado”).
Novamente, vasta maioria dos bibliotecários são oriundos das classes média e baixa, não tiveram acesso à bibliotecas decentes ou funcionando em sua plenitude, mas foram inteligentes o suficiente para reconhecer que o melhor caminho para ascensão social e econômica é via educação formal. E ingressaram na universidade. E saem da universidade para, alguns, trabalharem em bibliotecas públicas, escolares. E aí, em vez de transformarem o modelo que é padrão, do qual foram uma espécie de vítima, continuam trabalhando para a perpetuação dessa tradição de bibliotecas distantes das pessoas que mais precisam delas.
Eu fico imaginando que alguns professores de escolas públicas optam por dar aulas ruins, somente para que no futuro, os seus alunos não compitam com os seus filhos, que invariavelmente estudam em escolas particulares. E tenho a ligeira sensação de que alguns bibliotecários fazem a mesma coisa, mesmo que inconscientemente.
O que tá faltando é um pouco de “concordar com a realidade” e coerência, pois ou a gente toma essas visões apresentadas nos posters como efetivamente reais e compramos esse modelo, sem reclamar da vida e sem nos preocupar com o que a sociedade pensa de nós e a maneira como nosso trabalho impacta a vida delas, ou então a gente precisa dar um passo atrás e concordar que as visão externas e internas da área são efetivamente reais e preocupantes, e fazer coisas pra mudá-las.
Quem vai se preocupar com o que as pessoas pensam das bibliotecas e o que eu pensa delas? Que posição assumir em relação ao que o meu trabalho representa pra sociedade? Qual é a nossa identidade? Pessoas que ascenderam e esqueceram de onde vieram?
No final, eu ainda prefiro meu próprio poster.
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