“Por que não refundamos a Associação Brasileira de Bibliotecários? Por que não podemos ser como as outras profissões, que têm suas associações nacionais?”
Esses são os questionamentos movendo um grupo bastante ativo na última semana no Facebook.
Cheguei tarde, quando entrei no FB já havia centenas de mensagens que discutiam desde epistemologia de biblio até cnpj da nova associação. Acho lindo Briquet capitanear o projeto, ídolo de todos nós, e confesso que senti falta do Francisco das Chagas ali.
Meu entendimento sobre como as associações atuam e pra que servem em termos efetivos é tão pequeno quanto meu entendimento sobre os CRBs. Pra que servem as associações de profissionais bibliotecários? Não é uma pergunta retórica.
Acho que é no mínimo elegante e perspicaz dizer que a criação de um associação nacional seja importante para o desenvolvimento do corpo profissional e espera-se que isso se reflita na área como um todo, na qualidade dos serviços prestados em bibliotecas. Logicamente não haveria por que se opor a uma proposta deste tipo (mesmo que a FEBAB e outras organizações de classe estejam aí há tantos anos e ninguém, pelo caráter das discussões, tenha dado muito bola ou saiba responder com firmeza para que servem).
Também tenho um entendimento pessoal de que o profissional que quer se desenvolver descobre seus próprios caminhos, com ou sem associação. Assim valeu para tantos colegas bibliotecários que conheço.
No mais, enquanto se discute uma nova associação para “o desenvolvimento, a melhoria da qualidade dos profissionais da informação em geral e o aprimoramento dos serviços de biblioteca e informação”, 3 em cada 4 pessoas não frequentam bibliotecas.
Por tudo que li, ninguém ali, nem Briquet, nem Milanesi, nem Caruso estava falando diretamente sobre o impacto dessa nova associação em bibliotecas e seus usuários (embora tenham falado disso exaustivamente ao longo de suas carreiras brilhantes). De modo que eu particularmente não tenho com que contribuir com a discussão.
A mim, o que falta no Brasil é uma espécie de incubadora de produtos e serviços de bibliotecas (um dos motes da associação? ótimo). Algum tipo de organização que sirva não apenas para evidenciar (via eventos de classe) e problematizar (via periódicos, embora eles estejam muito mais voltados para problemas de informação como uma generalidade do que bibliotecas, bibliotecários e usuários) mas distribuir ou comercializar produtos e serviços inovadores de bibliotecas.
Digamos que alguém ou um grupo de bibliotecários queira desenvolver um software de automação de bibliotecas inovador, um serviço de normalização de monografias, uma solução para periódicos científicos em cloud ou um sistema de assinatura para bibliotecas com base em ebooks e vídeos. Que trajeto essas pessoas teriam de percorrer que não uma via comercial independente? Digamos que alguém queira montar uma biblioteca de bairro, que percurso teria que fazer que não envolvesse ativistas políticos e editais de governo?
Imaginem se a FEBAB funcionasse como uma espécie de lets ou catarse, promovendo crowdfunding para ideias inovadoras, que ajudem a resolver esse tipo de problema (porque esse parece ser um bom problema, mais do que uma nova associação que vêm se somar a outras).
Se existe uma frustração, ela não está relacionada com à organização e dinâmica de eventos tradicionais da nossa área, mas talvez à ausência de uma incubadora de projetos que tenha como base a cultura criativa que emerge a partir desses eventos.
Essa incubadora está transvestida nas escolas de biblio, nas associações profissionais, nos movimentos sociais. Mas além das habilidades individuais dos bibliotecários e estudantes de estabelecerem contatos e proporem projetos a partir dos encontros em eventos, nada muito nos resta, além de continuar participando de eventos, apenas para descobrir que a felicidade e motivação para continuar comprando o sonho de uma biblioteconomia ideal acontece uma vez por ano (intercalando SNBUs, CBBDs, ENEBDs, ENANCIBs, IFLAs etc).
Então o desafio é continuar o trabalho de mapeamento de boas práticas, o compartilhamento de modelos que podem ser replicados dentro de contextos e realidades específicas e nutrir o potencial criativo que resulta em abordagens para a real aplicação.
Uma associação pro progresso da biblioteconomia só faz sentido se ela for capaz de direcionar o capital criativo dos profissionais da classe para, bem, o progresso. E o progresso não vai vir por meio de cursos de MARC 21.
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