Há algum tempo, tive uma fala no bibliocamp sobre a minha experiência de 5 anos como bibliotecária na sede da ONU, em Nova York. Fiquei, de certa forma, espantada com a repercussão dessa fala, sobretudo diante de tantos outros projetos e assuntos interessantes que foram apresentados naquele evento.
E fiquei pensando: o que afinal chama tanto a atenção no fato de um profissional brasileiro ter trabalhado em uma organização internacional? No caso dos bibliotecários, talvez a raridade.
Até hoje, além de mim, só conheço dois bibliotecários brasileiros que passaram pela biblioteca da ONU em Nova York: um foi Rubem Borba de Moraes, que a criou, e o outro é Antonio da Silva, formado pela UnB, e que é hoje chefe da área de recursos multimídia da organização. E eu, sou somente uma bibliotecária que decidiu voltar para o Brasil atrás de calor solar e humano, e que sonha em dar aulas para os futuros bibliotecários desse país. Mas continuo sendo uma de três profissionais que fizeram algo extraordinário: trabalhar em uma das principais bibliotecas do mundo.
E não digo isso porque acredito ser alguém especial. Pelo contrário, acredito que qualquer pessoa com sonhos, determinação e esforço poderia chegar lá. Poderia ser você, se esse é o seu objetivo.
A questão é que, mais do que preparo, falta ousadia e confiança para ser mais do que nos contentamos em ser. Chegar lá me ensinou pelo menos 3 coisas que podem ser aplicadas a muitas outras pelo resto da vida:
1) Só ganha quem vai até o final. Quando fui prestar a prova para o concurso da ONU, ao ver a lista de inscritos, me deparei com dois nomes conhecidos de colegas bibliotecários, gente muito capacitada e por quem tenho grande admiração. Quando vi aqueles dois nomes, pensei: “Acabou pra mim. Esses caras vão me deixar na poeira.” Mas fui fazer a prova, mesmo assim. Depois, descobri que nenhum deles foi fazer a prova, porque acharam que “não valia a pena” ou que “esses concursos são só enrolação”. Resultado: eu estava lá, e fui aprovada.
2) Menos é mais. Quando descobri que havia sido chamada para a entrevista na ONU, compartilhei a notícia com o meu empregador na época, pois deveria tirar alguns dias de férias para a viagem a Nova York. Era um acontecimento! Para minha surpresa, o diretor da casa me preveniu: “O que você vai fazer na ONU? Aqui você tem um cargo de gerência, tem status, uma posição. Lá, você vai ser só mais uma bibliotecariazinha”. Eu me lembro de dizer a meus amigos que trabalharia na biblioteca da ONU até limpando as estantes. Não era verdade, claro, e nunca tive que fazê-lo. Mas a bibliotecariazinha aqui trabalhou com gente de todo o mundo, melhorou dramaticamente o inglês, conheceu tecnologias e recursos que ainda nem existiam nas bibliotecas brasileiras, participou de vários congressos internacionais, e ainda apertou a mão do Kofi Annan. Ou seja, valeu a pena.
3) Sucesso é o que te faz feliz. Morei 5 anos em Nova York devido ao meu trabalho, e me apaixonei profundamente pela cidade. Mas durante todo esse tempo, meu coração sempre esteve no Brasil. Sempre soube que iria voltar. Se tivesse ficado lá, hoje seria muito mais “bem sucedida” profissional e economicamente. Mas não seria feliz. Quando decidi voltar para o Brasil, outros planos e rumos foram surgindo, fui encontrando pessoas maravilhosas, e me envolvendo em diversos projetos pessoais e profissionais que me dão enorme satisfação. Isso, pra mim, é sucesso.
Confie no seu taco. Ouse.
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