Aprender a pensar como programador: por que isso pode melhorar o desempenho de um bibliotecário

A minha resolução de ano novo é aprender a pensar como programador. É muito provável que nunca programe nada, mas a cada dia me convenço que aprender lógica de programação me fará um bibliotecário mais eficiente (e ajudaria também outros bibliotecários, pelo menos aqueles que trabalham com sistemas de informação mais diretamente). Vou tentar listar algumas questões que me vem em mente:

1 – Os sistemas de informação mudaram. Apesar de que não chegamos nem no nível de evolução da padronização dos nossos acervos e ainda, falhamos no nosso sonho de realizar um controle bibliográfico e ah, o RDA não terá bons resultados, apesar de todo o discurso falando que ele é o futuro. Dentre os principais motivos, a meu ver, o que eu indicaria como principal é a que falhamos em trabalhar colaborativamente (Mas isso é assunto para outro post). Então, se os sistemas mudaram, primeiramente temos que entender para onde estão indo e mudar nosso fazer para nos adaptarmos. Os sistemas estão caminhando rumo a integração, todos os principais sistemas possuem interface de compartilhamento de dados com outros sistemas. Penso que nosso papel será muito mais de integrar fontes diversas e conseguir selecionar entre elas o conteúdo relevante para o nosso usuário específico. E como existem padrões diferentes de descrição nas diversas fontes, aprender lógica é fundamental para conseguir fazer integração.

2 – Temos muito o que aprender com a cultura do Software livre. São comunidades que conseguem se organizar para trabalhar coletivamente de maneira muito pouco hierárquica e o mais bacana, sem muitas vezes nem se conhecer. Mesmo assim, conseguem o que não conseguimos, construir coisas complexas coletivamente. Dedicamos muito tempo nosso em tarefas técnicas e muito pouco tempo para colaboração. Em sistemas complexos, ninguém mais consegue conhecer tudo. Mas esses sistemas são constituídos de contribuições pequenas de muitos. E o que dá ligação para tudo isso é a documentação do que foi feito. E a pró-atividade de programadores em ler a documentação e consultar várias fontes, criar e testar hipóteses para a solução dos problemas, antes até de consultar os pares.

3 – Diminui drasticamente o tempo necessário para realizar algumas tarefas. Fazemos muitas tarefas repetitivas, muitas vezes complexas, mas mesmo assim repetitivas. E com o crescimento exponencial da quantidade de recursos, a tendência é só aumentar a quantidade de tarefas repetitivas. Aqui acho que o pensar como programador é mais importante, a idéia é que toda tarefa repetitiva pode ser automatizada, totalmente ou parcialmente, restando para nós somente o que realmente não foi possível ser automatizado.

4 – E ainda, possibilita você conseguir conversar com um programador, o que melhora muito os resultados desta conversa no trabalho dele e nos resultados gerais.

Por onde começar: Sugeriria começar estudando “Lógica de programação”. Depois expressões regulares (regex) e só ai uma linguagem de programação.

Links úteis:

RexEgg: http://www.rexegg.com/
Code School: http://www.codeschool.com/.
Bento – Learn to code: http://www.bentobox.io/index.html

Para não ficar só numa argumentação vaga, aos poucos trarei exemplos para demonstrar resultados práticos.


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Comentários

6 respostas para “Aprender a pensar como programador: por que isso pode melhorar o desempenho de um bibliotecário”

  1. Avatar de Camile
    Camile

    Interessante o texto. Precisamos deixar a neofobia de lado e arriscar beber em novas fontes.

  2. Avatar de Marcelo Votto
    Marcelo Votto

    Perfeito, concordo com 99% do texto.

    O 1% é sobre o RDA, discordo neste ponto de você. Acredito que o RDA dará bons resultados, contudo o RDA por si só não é capaz de zerar o déficit que nos encontramos na recuperação e disponibilização da informação em novos ambientes.

    ah, e acredito que o RDA irá dificultar o intercâmbio de registros bibliográficos entre as bibliotecas… Mas com o AACR2 já é ruim…

    Não querendo me prender ao RDA, porque quero falar da lógica de um programador, e resumindo bastante, o RDA faz parte de uma evolução em todos os processos da catalogação. Evoluiu os conceitos (os tais requisitos, que mesmo o principal sendo de 1998, já é bem mais moderninho do que o Princípio de Paris), evoluiu o código (do AACR2 para o RDA) e posteriormente o armazenamento (do MARC para… Bibframe?)… Mas enfim, só nessas poucas palavras daria para abrir “n” parênteses.

    Mas sobre o pensar como um programador, vejo isso no meu cotidiano, onde atualmente trabalho com o DSpace e temos que discutir junto com os analistas sobre a importação x exportação dos dados, os metadados, o vínculo com o sistema gerenciador do sistema e até a arquitetura da página.

    As únicas coisas que sei programar são o despertador do meu celular e o modo pipoca do micro-ondas, mas a disciplina de lógica durante a faculdade e a leitura de livros básicos (mas básicos mesmo) sobre informática me ajudaram a compreender o que é possível ser feito por trás da interface e como solicitar aquilo que queremos do programador. Não sei se esse é o caminho, mas recomendo.

    De fato, não há necessidade de saber programar (esse papo é velho), mas cabe ao bibliotecário ao menos ler sobre a estrutura básica das ferramentas que irá utilizar e ter noção do que é possível ser feito, para não ser deixado “num canto” durante a reunião com o pessoal da informática.

    Putz, me alonguei…

  3. Avatar de Tiago Murakami

    Primeiramente bacana que você lê o BSF. Já li coisas suas e achei bacana. E também trabalho com o DSPACE, podemos trocar idéias. Mas falando sobre o RDA, a idéia em si é boa, o problema é ele não ser criado para colaboração. Teriamos que usar nossos conhecimentos para não só catalogar, mas para enriquecer catálogos. E compartilhar esses dados. Não será com o RDA que faremos isso. Pena.

    1. Avatar de Marcelo Votto
      Marcelo Votto

      Opa, Tiago,

      óbvio que leio! Há bibliotecário que não leia o BSF? Valeu pelo retorno ao meu comentário e vamos trocar figurinha sim sobre o DSpace, me interesso muito, tenho ideias e quero saber se você já passou por elas e o que encontrou!

  4. Avatar de Rafael Oliveira
    Rafael Oliveira

    Murakami,

    Sugiro também o livro “Expressões regulares: uma abordagem divertida” que ensina de forma bem prática o assunto e o guia “NO BULLSHIT guide to math and physics”, bom para desenvolver o raciocínio lógico.

  5. Avatar de Tiago Murakami

    Valeu pelas dicas Rafael!

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