A imagem acima é o projeto da nova Biblioteca Nacional do Iraque.
Durante o final do século oitavo e início do século 9, Bagdá era a capital intelectual do império islâmico que dominava a região. Os bibliotecários e acadêmicos lá trabalharam para acumular uma enorme biblioteca, com volumes adquiridos tanto dentro como fora do império. A demanda por livros era tão alta que era difícil manter-se com o desejo de novos volumes, já que os livros disponíveis se esgotavam rapidamente. O califa de Bagdá então recompensava generosamente estudiosos que traduziam tomos estrangeiros para o árabe.
Generosamente quanto?
Eles recebiam uma quantidade de ouro correspondente ao peso do livro, como compensação por suas contribuições à enorme biblioteca da cidade. Como resultado do investimento colocado sobre os livros e as extensas traduções concluídas por estudiosos islâmicos, milhares de obras gregas, romanas, persas e indianas foram preservados e arquivados.
Isso é história. Mas será que ela está se repetindo?
Costumo acompanhar os job listings da ALA, como curiosidade sobre as descrições das atividades solicitadas e faixa salarial, e pude notar recentemente que algumas vagas pediam bibliotecários experientes para trabalhar no Oriente Médio. Só no ano passado, me recordo de ter lido emails de despedidas de pelo menos 3 grandes profissionais ativos nessa lista da ALA, pois haviam recebido propostas irrecusáveis de trabalho em Dubai, Qatar e Bahrain, e estavam saindo dos EUA de mala e cuia trabalhar em bibliotecas do Oriente Médio.
Ao que tudo indica os xeques, khalifas, sultões, emirs e mulás redescobriram o prazer e poder que é ter bibliotecas públicas e privadas, representando seu nome ou seu país. E isso causou um boom no mercado especializado, desde arquitetos que constroem bibliotecas no deserto até acadêmicos e profissionais bibliotecários altamente especializados em estudos árabes. Tudo generosamente financiado pelos petrodólares.
Há dois aspectos interessantes: 1) esse boom de construções de novas bibliotecas públicas e privadas no Oriente Médio recoloca esses locais no cenário cultural mundial; 2) o boom de postos de trabalho para profissionais especializados nessas bibliotecas cria uma nova rota migratória para bibliotecários.
Andrea é um exemplo da coragem e ambição necessária para desbravar outros países trabalhando como bibliotecária. Leiam o relato dela.
E você, por quantos quilos de ouro você iria catalogar no paraíso artificial de Dubai?
A quem interessar possa, aqui está um job posting da MELA, Associação de Bibliotecários do Oriente Médio.
Abaixo, algumas das grandes bibliotecas em construção ou recém inauguradas por aquelas bandas. Xeque, qualquer dia tamos aí!
Biblioteca Nacional da Arábia Saudita – King Fahd National Library
mais imagens da biblioteca: DesignBoom
Biblioteca Nacional do Qatar
mais imagens da biblioteca: Qatar National Library
2 respostas para “Bibliotecários de volta à Mesopotâmia”
Espaços físicos modernos e, além de excelentes salários, uma verdadeira overdose em investimentos…. que belo atrativo! O oposto da realidade que vivenciamos por aqui!
Primeiro mundo. Espero ver brasileiros por lá também.