Como trabalhei com normatização de livros por alguns anos, sempre recebo consulta de amigos, colegas e alunos sobre o assunto.
Apesar do tema parecer não muito apreciado pelos bibliotecários – e até considerado desnecessário por outros – as normas têm o objetivo de facilitar a comunicação e o entendimento entre leitores, cientistas, cidadãos.
E embora não pensemos muito sobre o assunto, a instituição de normas é necessária em vários cenários sociais, como bem coloca Mattelart (2006, p. 24):
“A norma é tudo aquilo que assegura a integração das partes ao todo. Quer elas sejam de caráter técnico ou comportamental, são as normas e os procedimentos que determinam os critérios de eficiência da organização. Sob o ponto de vista da normatização, não há diferença entre o nascimento da gramática na França do século XVII e a instituição do sistema métrico no final do século XVIII. Richelieu, os convencionais e Napoleão Bonaparte são os instrumentos sucessivos de uma mesma exigência coletiva. Começa-se com normas gramaticais, para concluir com as normas morfológicas dos seres humanos e dos cavalos visando à defesa nacional, passando pelas normas industriais e higiênicas.”.
Bem, as normas são, então, importantes!
Mas encontramos boa parte do que precisamos nas normas de documentação?
Uma das normas que parece trazer mais dúvidas é a NBR 6023:2002. Talvez por ser a mais utilizada e cobrada no meio acadêmico e científico, talvez por haver quase 11 anos de sua última atualização.
Nesse interim, as fontes de informação sofreram mudanças e as normas não foram atualizadas para abrigar minimamente essas alterações.
Apesar de contemplar a elaboração de referência de e-mails (sim, a norma traz esse item explicitamente!), não encontramos nada sobre a elaboração de referências de posts, de blogs e de tweets, por exemplo. Fontes que apesar de informais, vem sendo cada vez mais utilizadas em trabalhos acadêmicos e até científicos.
Não havendo nada na NBR 6023:2002, cabe a cada um adaptar os dados que possui para formar o que considera uma referência aceitável.
Bem, se mesmo com diretrizes teoricamente claras em relação à elaboração de referências de alguns documentos as pessoas já usam sua imaginação [muito fértil, acreditem!] para fazer releituras das regras constantes na NBR 6023:2002, com nada sobre o assunto, a imaginação voa alto!
Sendo assim, nos perguntamos: quando as normas de documentação abrigarão essas fontes de informação, cumprindo o papel que possuem em sua essência?
Embora tenhamos profissionais bem preocupados com a questão e que se empenham em tentar elaborar referências fazendo estudos sérios em cima da NBR 6023:2002, como podemos cobrar a alguém [especialmente, aos alunos, em formação] que sigam fielmente as normas, se elas não estão acompanhando as evoluções documentais?
Como responder: “Professora, como faço referência de um tweet?”.
Minha resposta geralmente começa com “Vamos pensar juntos!”. Daí, levo o aluno a catar uma regra aqui, outra ali, para conseguir elaborar uma referência que, a nosso ver, é aceitável. Afinal, como dar a ele uma “regra pronta”, se ela não existe? E se ele irá terá que refletir para elaborar referências de documentos que a norma não contempla, vamos começar a pensar no assunto desde a graduação…
Afinal, como elaborar algumas referências quando não há diretrizes para sua elaboração na NBR 6023:2002?
É, embora muitos acreditem que a elaboração de referências é algo mecânico, é comum termos que pensar [e muito!]!!!
Referências:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
MATTELART, Armand. História da sociedade da informação. São Paulo: Ed. Loyola, 2002.
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