Dia 31 de março de 2013 foi anunciado pela Library of Congress como marco zero (ou dia zero) em que todos os registros criados por seus catalogadores serão inteiramente baseados na RDA. Entretanto, essa mudança implica abandonar alguns princípios para que seja adotado um novo modelo conceitual baseado em entidades, relacionamentos e atributos alterando aspectos que interferem no nosso fazer profissional.
Um ano se passou e já conseguimos perceber algumas poucas, mas significativas mudanças. Contudo, é preciso estar atento, pois surgiram empresas querendo tirar proveito da falta de conhecimento dos bibliotecários e gestores de bibliotecas para vender soluções e porções mágicas para converter os registros antes catalogados de acordo com o AACR para o RDA. Vejam esse anúncio, por exemplo, da empresa RDA Express.
É importante saber que apesar do RDA ser lançado em 2010, vem passando por atualizações e testes em várias instituições, sendo que a próxima grande atualização está marcada para 22 abril desse ano conforme site oficial do RDA.
No site do RDA aparecem as instituições que já implementaram RDA para a catalogação entre elas Biblioteca Nacional da Austrália, Biblioteca Nacional de Conselho de Cingapura, Biblioteca Britânica, Cambridge University Library, Universidade de Warwick, Biblioteca do Congresso, National Agricultural Library, National Library of Medicine, Brigham Young University, Universidade de Stanford, Universidade de Chicago espalhadas por Austrália, Cingapura, Reino Unido, Inglaterra, Estados Unidos. Tem várias outras implementações acontecendo como na Biblioteca Nacional do Canadá, na Holanda, Nova Zelândia, Filipinas, Escócia, entre outras. Para facilitar isso, em 2011, foi criado o RDAToolkit como plataforma para implementação do novo código, onde o interessado deve fazer uma assinatura para ter direito a licença de uso.
Isso tudo mostra que os bibliotecários precisam acompanhar as novidades em relação ao RDA para não perderem oportunidades ou terem prejuízos, seja em eventos, leitura de publicações ou mesmo nas mídias sociais como o grupo chamado Catalogação e Metadados do facebook. Além disso,, o bibliotecário e doutorando Fabrício Assumpção e o bibliotecário da UCS Marcelo Votto são exemplos de jovens profissionais que estão estudando/atuando em pesquisas e aplicações sobre RDA hoje no Brasil e disseminando as novidades e tendências sobre o novo código e seus modelos conceituais. Ana Carolina Siomionato, faz doutorado na UNESP e atualmente professora colaboradora na UEL também é outro exemplo de uma jovem pesquisadora da área. Quem quiser conhecer mais sobre RDA, procure pelo nome desses bibliotecários no slideshare que aparecerão várias palestras e apresentações deles por todo país.
Fabrício além de estudar aspectos que envolvem essa temática no mestrado, ministra um curso sobre as tendências da catalogação pela empresa Content Mind e em seu blog atualiza informações sobre o assunto sugerindo bibliografias para quem quiser se aprofundar.
Antes deles, a professora Plácida L. V. A. da Costa Santos, da UNESP, já vinha pesquisando a temática, inclusive orientou Rosa Maria Rodrigues Corrêa na dissertação do mestrado finalizada em 2008. O professor Fernando Modesto, da USP, também pesquisa há alguns anos o surgimento e evolução do novo código de catalogação. Existem vários outros pesquisadores no país, mas fiz um pequeno recorte de alguns que venho acompanhando para me atualizar sobre esse assunto.
O importante é saber que, assim como ocorreu com o AACR que evoluiu desde 1967 até o surgimento das discussões em torno do RDA em meados de 2003 durante a II Conferência de Paris, ocorrerá o mesmo com o novo código visto que trata-se de um trabalho coletivo envolvendo várias instituições de diferentes países que estão adaptando, testando, ajustando, etc.
Sobre o idioma, o RDA está sendo traduzido para francês e alemão, sendo que o chinês e espanhol estão em andamento, mas não há previsão para o lançamento. No Brasil, além da UCS que está em fase de testes com o FRAD no Pergamum, não há mais nenhuma instituição (a não ser que estejam fazendo sem divulgar). O RDA ainda não foi traduzido para o português e há dúvidas entre os analistas e proprietários de empresas de softwares para automação de bibliotecas no Brasil, principalmente em relação ao formato, pois o mesmo é compatível com Dublin Core e com o MARC. Imagina-se que por isso não exista oficialmente nenhuma instituição no Brasil implementando o RDA, pelo menos foi essa informação discutida no II ENACAT junto ao Encontro Internacional de Catalogadores, ocorrido no Rio de Janeiro em novembro passado.
Paralelo às publicações sobre o assunto, o bibliotecário deve buscar capacitação para o entendimento dos novos instrumentos de descrição, padrões de metadados como Dublin Core, MODS, modelos conceituais (FRBR, FRAD, FRSAD), linguagem XML adotada para o intercâmbio de dados na Web, pois serão eles que nortearão os trabalhos dos bibliotecários com a implementação do novo código no século XXI.
Contudo, é importante esclarecer que como estamos em fase de testes e mudanças, tem outras tecnologias sendo estudadas para atender a demanda de descrição, representação e recuperação de objetos digitais visando promover o relacionamento entre esses itens, independente de sua manifestação, como os projetos de Linked Data que permitem a interoperabilidade e interligação entre dados em bibliotecas, museus e arquivos conforme Professor Marcondes, da UFF, explica. Além disso, tem as iniciativas relacionadas ao BIBFRAME, iniciativa da Library of Congress, que fornece uma base para descrição bibliográfica na web.
Por isso e tudo mais que percebo as áreas de descritiva (catalogação) e temática (indexação) estão cada vez mais próximas, principalmente no que tange à web semântica e tudo que ela pode contribuir para a organização e representação de conhecimento. Daí a necessidade do bibliotecário estar atualizado sobre essas tendências para se apropriar desses conceitos e se inserir nessa discussão.
OBS: Imagem tirada do blog do Fabrício Assumpção.
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