Por R$138 (mais o frete) você pode ter um capinha de iphone que parece ter sido tirada de uma biblioteca que não respeita a privacidade de seus usuários.
Por mais que eu adore a ideia de que as pessoas estariam pegando emprestado um livro de Shakespeare quase semanalmente (em 2014! Ele está disponível na internet) e, pessoalmente, gostar da iconografia dessas fichas antigas, é sempre intrigante vê-los por aí apropriados como um objeto da moda.
Kate Spade lançou uma coleção que celebra a “sagacidade literária” e um monte de itens com temática de biblioteca, o que deve significar que, pelo menos em algum lugar, as bibliotecas são vistas como algo que vale a pena investir.
Curiosamente, as assinaturas na ficha do livro são nomes de funcionários da Kate Spade. Hester Sunshine é um blogueiro da Kate Spade. Erin Graves trabalha no marketing, assim como Noura Barnes, Sophia Smith e Wendy Chan. Julie Ly é do RP e Suzanne Schloot trabalha no marketing de mídia social. Outras pessoas possuem assinaturas que são difíceis de ler (jogada inteligente) ou nomes que são demasiado gerais para rastrear.
Então, isso é legal e um monte de gente compartilhou a capinha no facebook. Ao mesmo tempo, isso meio que fetichiza a biblioteca (e faz dinheiro para os criadores do produto) sem realmente passar qualquer desse entusiasmo à própria biblioteca.
Eu tenho sentimentos semelhantes sobre as chamadas Pequenas Bibliotecas Livres. Eu gosto delas. Elas são divertidas e uma ideia elegante para as pessoas conseguirem outras pessoas interessadas em leitura e no poder de construção de uma comunidade em torno de livros. Eu sou a favor de ambas as coisas. Mas já que elas são chamadas de bibliotecas, as pessoas olham para mim e meus colegas de trabalho e dizem: “Ei, você curtiu essas bibliotecas? Não acha que deveria ter pensado nisso antes?” E minha resposta, que eu tento oferecer sem soar mal humorada, é que eu amo essas coisas, mas eu não sei por que elas são chamadas bibliotecas, em vez de estantes comunitárias, que é o que realmente elas são.
Exceto que eu sei por quê. Porque a palavra biblioteca é evocativa de um monte de coisas, de agora se estendendo profundamente no passado. Tem seriedade e vem com um monte de associações que você pode de certa forma obter gratuitamente, ligando as suas coisas com bibliotecas. Exceto que as bibliotecas têm um custo. E o trabalho exigido para mantê-las em funcionamento (o que é muito mais do que manter uma estante abastecida) é complicado, às vezes ingrato e sob o ataque de pessoas que acham que de alguma forma as bibliotecas não estão na moda o suficiente, não são maneiras ou atuais o suficiente, que o nosso dia passou. Então, sinta-se livre para deixar de me enviar esta capa de iPhone, por mais que eu tenha achado bacana, e pense sobre o porquê de as pessoas adorarem esse tipo de coisa e ao mesmo tempo não darem a mínima para as bibliotecas de sua cidade.
[tradução de unfashionable libraries]
2 respostas para “Bibliotecas fora de moda”
As pessoas gostam da biblioteca (dos outros) porque a grama sempre é mais verde do outro lado. Quando a questão é mexer as próprias mãos (ou investir tempo/recursos na biblioteca local), daí são outros quinhentos. Numa estante comunitária não tem nada de biblioteca, exceto os livros. Numa “mini-biblioteca em casa” (ouvi essa ontem) também não tem nada de biblioteca, exceto livros. As pessoas não estão acostumadas a usar bibliotecas, fetichizam a ideia, e como a realidade não condiz com a imagem idealizada, deixam de se interessar pela biblioteca que já existe. É um ciclo, vejo eu.
Eu mesmo fiz minha mesma biblioteca em casa, comprei vários livros e os coloquei em cima do meu painel para tv , sempre que sento no sofá para ver tv leio um pouco.