Uma das tendências na educação que tem despertado muito interesse atualmente é a aprendizagem por projetos. Iniciativas como a famosa Escola da Ponte, em Portugal, ou as brasileiras: Projeto Âncora (Cotia/SP) e a escola municipal Amorim Lima (São Paulo), entre tantas outras, vêm revolucionando o conceito de espaço de aprendizado. São escolas sem paredes, sem aulas, sem currículo, onde os alunos aprendem de acordo com projetos propostos por eles mesmos, com professores convidados para facilitar a aprendizagem. A ausência de séries e de diferenciação por idades, possibilita que alunos mais experientes ensinem os novos, numa constante colaboração, onde a figura do mestre e a participação dos alunos são totalmente ressignificadas.
Paralelamente, as tendências mais avançadas da gestão de pessoas no mercado corporativo têm reconhecido o valor da colaboração e da criatividade, no lugar dos conceitos velhos e batidos de competição e produtividade. Espaços de coworking se espalham pelas cidades, geralmente associados ao empreendedorismo.
E nossas bibliotecas, em especial as públicas e comunitárias? O que estão fazendo com essas novas conjunturas?
Na teoria, poucos discordam do fato de que a biblioteca como santuário do silêncio é um conceito ultrapassado. Mas quantas de nossas instituições realmente projetam espaços apropriados para o encontro, para a troca, para a cooperação?
Nesse aspecto, temos muito o que aprender com os modelos acima. Que tal seria uma biblioteca que funcionasse facilitadora das atividades de aprendizado em suas comunidades? Que, para além da curadoria de conteúdos para usuários específicos, servisse como curadoria e ambiente para experimentações diversas? Que, reunindo as pessoas interessadas em um mesmo tema, possibilitasse os espaços e recursos para que, juntas, elas desenvolvessem seus estudos?
A promoção de grupos de estudos livres, na biblioteca, que envolvesse o planejamento, divulgação, suporte para a realização dos encontros e inclusive o registro desses estudos e o encaminhamento desse material em produtos, como publicações, gravações em áudio ou vídeo, com os resultados práticos dessas pesquisas.
Não é difícil imaginar a miríade de interesses que surgem em qualquer aglomerado humano e as possibilidades de desenvolvimento de quaisquer deles. Talvez seja difícil vencer o preconceito com alguns desses interesses, ou a inércia do profissional, mas as possibilidades são inegáveis, em em todos ambientes.
Uma biblioteca comunitária em uma favela tem uma riqueza tão grande de questões e sonhos para trabalhar como qualquer biblioteca universitária, ou escritório de multinacional (provavelmente muito mais!).
Temas para estudo não faltam: a polêmica da novela pode formar um grupo para a discussão de ética, o hip-hop desperta um interesse natural por música e por poesia, o funk facilmente formaria um grupo de dança. Grupos de culinária poderiam trocar receitas e promover jantares. Professores poderiam ser convidados, trazendo uma nova perspectiva para cada assunto.
No grupo de construção civil, convidados poderiam ensinar técnicas de bioconstrução, como aproveitamento da água da chuva e do calor do sol, geração de energia sustentável, etc. O laboratório poderia ser as próprias moradias dos participantes. O grupo de culinária poderia aprender mais sobre alimentação saudável, autonomia alimentar, hortas coletivas. As possibilidades são infinitas.
Por que a biblioteca seria o espaço ideal para incubar essas iniciativas?
Essa pergunta poderia ser feita de outra forma: Que outro espaço poderia ser melhor que uma biblioteca para essas atividades? Bibliotecas precisam conhecer as comunidades que atendem. Precisam saber de suas preferências, desejos e sonhos. Bibliotecas são centros de informação com profissionais capazes de providenciar os recursos necessários para cada atividade de estudo. Bibliotecas se preocupam com o empoderamento das pessoas, têm por missão a promoção da autonomia e da cidadania.
Colaboração e comunidades de aprendizagem não são conceitos novos em bibliotecas. Algumas há tempos vêm inovando nessa direção, como as bibliotecas parque. Vamos junto(s)?
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