Qual sua experiência inesquecível na biblioteca?

No dia do bibliotecário escrevi a experiência mais emocionante que tive como bibliotecário, quando auxiliei um senhor a encontrar a nomeação do filho no diário oficial. Ele ficou tão feliz que eu senti que o meu fazer diário é a coisa mais importante do mundo.

Lancei a pergunta no facebook: qual a sua experiência mais emocionante na biblioteconomia? Aquela que ainda hoje você lembra com um palpitar diferente no coração?

Bibliotecários e bibliotecárias participaram e responderam sobre suas boas lembranças na profissão.

Interessante notar como 100% das experiências tratam simplesmente de ajudar uma outra pessoa. Será que nascemos ou nos tornamos bibliotecários? Creio que pessoas profundamente egoístas ou possessivas tenham dificuldades na nossa profissão. Fico imaginando que já cheguei a emprestar livros particulares para usuários da biblioteca (com o coração na mão, claro, mas devolveram :D). Uma característica que considero comum em bibliotecários é o altruísmo puro e simples de ajudar sem esperar na em troca. Claro que somos pagos para isso, estamos na biblioteca para ajudar, porém nem todos são vocacionados para isso.

As experiências relatadas aqui, como numa técnica do incidente crítico diferente, mostram que todos precisam de ajuda em maior ou menor grau.

Nelson, empreendedor da biblio, mostrou como um bibliotecário é fundamental para a inovação

A uns 2 anos atrás uma pessoa procurou ajuda na biblioteca publica registrar uma invenção. Expliquei todos os passos, a quem procurar, e como proteger a sua idéia. Um ano e meio depois a pessoa voltou para agradecer e dizer que ja havia encontrado uma indústria para produzir a sua idéia. Esta oportunidade de acreditar nos sonhos das pessoas e velos realizados é incrível.

Aline Costa contou sobre uma atividade que, creio, todos os bibliotecários já passaram que é ajudar na alfabetização e no incentivo à leitura para crianças.

“Sem dúvida nenhuma foi quando eu levava a Biblioteca nas zonas rurais de uma cidade do interior mineiro. As crianças ficavam ansiosas esperando o dia que eu iria lá. Trabalho super gratificante!!!”

Lucélia Mara Serra também vai nesse sentido, mas voltado a educação de adultos.

“Em um curso de pesquisa científica ter em sua maioria agricultores que não sabiam nem pegar no mouse. Ensinei informática básica e pude tranquilamente mostrar o que é ciência depois. Quando lembro que pude mudar a vida deles, me emociono.”

Rai Lima contou um pouco sobre a rotina de bibliotecas jurídicas, e lembrou de trabalhar com pessoas que gostam de ler

“Gustavo Henn, todos os dias, sempre que consigo realizar a pesquisa solicitada pelo usuário. Ontem mesmo um amigo estava há tempos em busca de uma resolução do CNDU, que já tinha perdido as esperanças. Qdo avisei que tinha enviado para que já tinha enviado para o e-mail dele a grata surpresa aliada ao muito obrigada e a certeza de saber que se resolve é td de bom!!!! Mas… a lembrança da biblioteca da AABB sempre cheia em pleno domingo com leitores ávidos por mais literatura de boa qualidade é o que mais me emociona. Por eles a biblioteca funcionária 24h.”

Tiago Marçal Murakami me encheu de orgulho ao compartilhar esse pequeno roteiro de filme, mostrando como profissionais podem ser fundamentais exemplos para os jovens.

“Trabalhava no CEU Butantã e tinha um menino que ia todo dia na Biblioteca, o Marquinhos. Ele ia, algumas vezes com o seu irmão mais velho e ficava a tarde toda na biblioteca. Um dia ele apareceu de manhã, ele falou que não tinha aula. No dia seguinte, apareceu de manhã de novo. Questionei e ele falou que abandonou a escola por causa de uns meninos que queriam pegar ele. Todo dia que ele aparecia lá eu enchia ele para que ele voltasse a estudar, que era importante para ele. Ele ia para jogar no computador, as vezes jogava xadrez comigo e eu comecei a dar alguns livros para ele e ele curtiu. Dai eu fui trabalhar em outra biblioteca, em São Bernardo do Campo. Como São Bernardo é longe, ia todo dia muito cedo para lá. Um dia encontrei o Marquinhos no ônibus bem cedo. Me disse que tinha me ouvido e tinha voltado a estudar, e agora estava indo trabalhar. É um tipo de coisa muito boa de se ouvir.”

Moreno Barros mostra como o espaço biblioteca pode servir às pessoas muito além do que livros, e sim dignidade.

“sempre que chegava um gringo na BU eu era intimado a interagir. um deles queria simplesmente autorização para colar um cartaz no mural da bbteca. o cartaz era sobre cursos de inglês que ele tava tentando dar pra pagar as despesas (não era um gringo play, era um inglês fudido de meia idade que veio pro brasil em um outro trabalho que não deu certo e tava tentando a sorte antes de voltar duro). ele perguntou se podia usar as salas de estudo da bbteca para estudar e lecionar. eu falei que não tinha problema algum. meses depois ele apareceu para agradecer e se despedir. disse que tava indo voltar pra sua família, que não via a filha há muitos meses e que graças as aulas ele conseguiu juntar a grana da passagem e zerar o investimento perdido vindo pra cá. tem outra tb de um cara que apareceu na cartografia da BN querendo um mapa antigo do Rio para provar que ele não precisava pagar o laudêmio da Marinha, se não ele teria que vender a casa para poder pagar as dívidas. conseguimos um mapa e ele ganhou o processo.”

Lucio Dias Cara conta como a nossa profissão além de ganha-pão é muito gratificante por proporcionar o crescimento intelectual das pessoas e oportunidades de filhos ensinarem algo aos pais,

“tinha um estágio na Fundaj para pagar as farras de sexta no bar do Bigode e os lanches do Beloto todo mês (os bibliotecários pernambucanos entenderão) pois bem comecei a fazer pesquisas no estágio pra gente de outros países por e-mail, o cara mandava as páginas que ele queria saber do conteúdo nas obras raras para ver se estava de acordo com outros livros mais novos… O ponto chave disso tudo, quando eu comecei a ver que estava no caminho certo foi quando um menino de 12 anos chegou com seu pai na biblioteca, logo perguntei que livro ele queria pois o acervo era fechado, o menino insistiu para ir nas estantes e eu deixei, ele pegou um livro de história e sentou com seu pai, eles passaram horas lá e depois voltaram algumas vezes. Certo dia fiquei curioso pra saber o que tanto eles faziam e o menino simplesmente me disse que lia para o seu pai que era analfabeto. Nesses tempos aqui na UFPB tive o privilégio de conhecer 2 caras gente boa pacas. Um pai e o seu filho, galera carente que chegou na universidade com suor e lágrimas. O filho cursa direito e o pai vendo seu filho na universidade fez vestibular pra filosofia e os dois estudam juntos na biblioteca. É por essas e outras que nossa profissão é gratificante.”

Amanda Luna nos lembra que na hora H o conhecimento técnico faz toda diferença para uma aprovação

“Ajudar um aluno a concluir uma dissertação, ajudando a normalizar(apenas) e o mesmo voltar na biblioteca, te chamar só pra dizer ” você salvou a minha vida”, não teve preço! ahahahahahha”

Alba Monteiro Coelho Silveira entrega que todo bibliotecário tem um pouco de ator

“Quando trabalhei numa biblioteca infantil e as crianças bem pequenas faziam um grande barulho e eu comecei a contar uma estorinha dos três porquinhos e eles foram se calando e AREGALAVAM OS OLHOS A CADA PARTE DA HISTÓRIA!”

Adriana Quincoses me emocionou mostrando em poucas linhas como a memória registrada é fundamental para a vida de todos.

“Há dois anos orientei uma pessoa a pesquisar no google sobre o próprio nome . Ele não tinha intimidade com a internet então fiz a pesquisa e seus olhinhos brilharam pois na pesquisa apareceram vários títulos que ele escreveu e não lembrava mais. Me senti muito bem em proporcionar minutos de alegria para o professor Lepargneur 87 anos!”

Vanessa Ribeiro conta que a relação de confiança entre o bibliotecário e o leitor nasce de várias formas

“Ao longo da vida presenciamos muitas lembranças. Mas a sensação única de saber que vc incentivou a leitura. Isso não tem preço. Trabalho em uma escola e tem uma menina de 7 anos que não queria pegar livro pq era chato e doia seus olhos. Sentei ela no meu colo e conversamos muito. Liguei para a mãe e falei pra mãe dela o que houve. No outro dia ela me abraçou e disse que iria ler. Pq ela não queria me decepcionar. Até chorei. Tem prazer maior.”

Sheila Alves contagiou seus amigos com tanto amor pela profissão e trouxe novos membros para a biblioteconomia

“Meus olhos brilham ao lembrar do quanto disseminei meu amor a esta linda profissão a ponto de incentivar, agora colegas de profissão, a entrar nesta área..mesmo quando pareciam esmorecer eu lhes mostrava sempre o lado bom…hoje são excelentes profissionais outros ainda estão no preparo, mas já tem um olhar diferente de nossa amada profissão né Paloma Santos, Ingrid Zahlouth e Josiel Queiroz e tantos tantos outros que passaram a valorizar nossa profissão pelo simples fato de eu exerce com amor cada gesto!”

Gracy Martins faz o moinho girar ao ver um aluno seguir o seu próprio caminho

“Quando entrei pela primeira vez na sala de aula, alguns anos mais tarde do que deveria, com dois filhos e em meio aos conflitos pessoais da época, senti uma emoção indescritível. A sala não tinha quase ninguém ainda e ali vi meus sonhos e esperanças se renovando. A biblioteconomia mudou minha vida, abriu novos caminhos e decidi que queria ser professora para participar da mudança de vida de outras pessoas. A vida continuou e eu, muito mais rápido do que eu poderia imaginar, me tornei professora. E a primeira vez que um aluno entrou na minha sala contando que tinha passado no mestrado, me agradeceu e emocionado narrou sua história e o quanto sua vida tinha mudado a partir dali, senti uma emoção imensa e tive certeza que aquele era meu caminho. Eu estava, na lei da gratidão, devolvendo à vida o que ela me proporcionara. E depois muitos outros alunos compartilharam comigo as boas mudanças do curso/carreira em suas vidas. E essa é sempre uma gratificante e grande emoção.”

Irma De Oliveira Souza agradece à biblioteconomia por ter mudado a sua vida.

“Quando estava no mestrado e ouvi uma professora me dizer que retirava tudo o que já havia dito e pensado ao meu respeito, pois eu era especial e deveria seguir carreira docente, pois já havia me revelado mais que bibliotecária. Nesse dia meu coração bateu tão forte que achei que teria um treco. A Biblioteconomia mudou minha vida em muitos aspectos e hoje quando entro em sala de aula e defendo o fazer e ser bibliotecário o faço com o maior amor que alguém pode sentir e nesta relação existe: gratidão, reconhecimento e um desejo enorme de mudança!”

Por fim, Moreno mostra que os bibliotecários também contribuem para a preservação das espécies ao salvar uma Coruja (símbolo da biblioteconomia) que queria ler um pouco.

e teve aquele dia que uma coruja entrou na biblioteca, ficou acuada embaixo de uma estante. arrumamos uma missão de resgate para devôlve-la a seu habitat natural em paz

E sua experiência, leitor bibliotecário, quer compartilhar com a gente?


7 respostas para “Qual sua experiência inesquecível na biblioteca?”

  1. Com existe o convite de compartilharmos nossas experiencias, aqui vai um pouquinho do q eu vivi. Sempre trago boas lembrancas do tempo q eu trabalhava como bibliotecaria no Brasil.
    Sempre gostei do contato com o publico, de fazer animacoes de bibliotecas com as criancas et organizar cursos de formacao aos usuarios. Foi surpreendente constatar q varias donas de casas nem sabian q era possivel encontrar emprego utilizando os classificados dos jornais impressos disponiveis na biblioteca.
    Mas tem uma experiencia em particular q ainda me aquece o coracao. Un orgulho profissional saber q eu consegui ajudar a mudar a vida de uma moca atraves da biblioteca! Toda tarde, uma moca muito simples vinha estudar na biblioteca. Ela estudava no periodo da manha et o periodo da tarde, como nao tinha dinheiro para pagar cursinho, vinha à biblioteca estudar, se preparar para um vestibular. Ela tinha uma vida muito dura, mas era sonhadora et queria um futuro melhor, queria ser enfermeira a nivel superior. Seus pais tinham pouca instrucao escolar et achavam q estudar era um « luxo » para filhos de rico. Foi muito triste saber q essa moca era vitima de violencia domestica simplismente pq queria « estudar »!!!! Na visao dos pais dessa moça, ela tinha q abandonar a escola et ir trabalhar como empregada domestica.
    Sensibilizada com a situacao, criei um « dossier » para ela. Selecionava varias reportagens en jornais impressos et internet relativas ao curso de enfermagem, oportunidades de empregos, salarios, etc. Imprimi todas as informacoes sobre as cotas para negros, sobre os programas de financiamento de cursos universitarios, ofertados pelo governo aos alunos carentes, etc.
    Apos a leitura das inforamcoes selecionadas, estabelecemos um plano de acao. Ela deveria procurar oportunidades para conversar com os pais. Treinava com essa moca o q ela deveria argumentar com os pais, frase por frase. Foi un trabalho longo, pois os pais estavam convencidos q a moca era preguicosa et estava procurando desculpas para nao trabalhar como empregada domestica.
    Enfin, depois de meses et meses insistindo nessa tecla, os pais da moca chegaram a conclusao q iriam dar essa « colher de cha » p ela, q iriam deixa-la estudar.
    Foi muito gratificante saber q essa moca realmente conseguiu passar no vestibular para enfermagem et q conseguiu o financiamento do governo.
    Nossa profissao é maravailhosa et podemos mudar vidas atraves da informacao. Eu pude experiementar uma sensacao maravilhosa tanto pessoal como profissional. Pessoal, pela certeza de fazer o bem! Et como profissional,com a certeza do dever cumprido!

  2. Gostei muito dos testemunhos que aqui li, revelam, de facto, um lado muito humano que a nossa profissão pode proporcionar. No entanto, grande parte das histórias aqui relatadas poderiam ter sido protagonizadas por tantos outros profissionais, que não bibliotecários. Bem sei que somos anões nas costas de gigantes e existe uma grande necessidade de dignificar, valorizar e mostrar que a nossa profissão é fundamental para o bom funcionamento da sociedade. Eu até diria, que uma sociedade democrática e socialmente desenvolvida necessita de boas bibliotecas públicas. No entanto, é necessário encontrar um perfil e um conjunto de competências que nos distinga verdadeiramente de outros profissionais, e não apenas o “altruísmo puro e simples de ajudar sem esperar nada em troca”. Afinal essa é uma característica que deve ser comum a todas as profissões, mas sobretudo, a todas as pessoas no seu dia a dia.

  3. O momento importante que aconteceu na Biblioteca foi quando uma aluna do 5 ano, veio procurar, um livro para que a mesma pudesse, ,procurar ajuda para responder a suas duvidas sobre drogas, e a melhor forma para ajudar seu pai. Eu indiquei o Livro Roxo Rosa onde ela encontrou as respostas que precisava.

  4. Dulce Maria Gaudencia Juliao

    25/05/2014 Às 12:40

    Sempre procuramos ajudar não só os nossos alunos e sim, a toda comunidade escolar. Mas eu estou feliz por estar fazendo parte deste
    artigo maravilhoso porque, podemos manter informado sempre, e temos onde encontrar novas informações para o nosso dia-a-dia.

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