A biblioteca física tá aí né gente. Mesmo que o surgimento e sofisticação das “TICs” digitais tenham alimentado um certo receio em relação à manutenção dos prédios das bibliotecas – o “fim das bibliotecas” -, o que parece é que as bibliotecas físicas se adaptaram às aspirações da sociedade e vêm mostrando uma interessante flexibilidade. Deu pra ter de uns anos pra cá esses modelos de biblioteca-café ou bibliotecas que se parecem com livrarias, mas o ponto principal é que a biblioteca, o seu prédio, se revelou uma TIC propriamente. Fica claro que a explosão da tecnologia digital tem sido acompanhada por um investimento em larga escala na biblioteca física, em espaços novos ou renovados quem tem a intenção de “encantar”.
Esse é um processo que se repete ao longo da história, mas de fato, nos últimos vinte anos tem havido um renascimento na construção de bibliotecas, incluindo uma grande dose de inventividade nos projetos de design e renovação. Eu já criei um site para tentar agrupar projetos de bibliotecas (Arquitetura de Bibliotecas), em particular no Brasil, e publiquei aqui anos atrás exemplos de arquitetura de biblioteca que servem de inspiração (estado da arte na arquitetura de bibliotecas em 2012, arquitetura de bibliotecas brasileiras, a biblioteca de Seattle, arquitetura e design de bibliotecas em vídeos).
Eu sempre tive comigo que um bom design de biblioteca exerce impacto crucial no seu funcionamento e engajamento com os usuários. Mas nunca consegui encontrar um debate entusiasmado sobre inovação e design de bibliotecas, nem na literatura da área, nem nos próprios cursos de biblioteconomia (exceto artigo de Antonio Miranda, monografia de Regina Garcia Brito e trabalhos apresentados nos SNBUs sobre renovação predial e padronização de segurança e acessibilidade). Além disso, nem todos os bibliotecário tem a chance de participar diretamente, ao longo de suas carreiras, de um projeto de construção ou renovação de biblioteca.
O processo de design para qualquer tipo de prédio/construção é essencialmente uma atividade de solução de problemas, e a concepção de bibliotecas não é exceção. Por esse motivo, tentando alinhar a minha vontade de explorar melhor a arquitetura predial de bibliotecas e como os bibliotecários podem aplicar metodologias de user experience e design thinking para promover um modelo de biblioteca centrado em pessoas (diferente de um modelo clássico centrado na gestão do acervo unicamente), eu decidi oferecer um curso sobre arquitetura de bibliotecas.
O curso é parte do Futuro das Ideias, que é um projeto vencedor de edital de atividades culturais do Centro Cultural Justiça Federal no Rio, que tem inovação como mote e conta com a participação dos criativos Andrea Gonçalves, Dora Steimer e Fabiano Caruso, que vão dar cursos sobre métricas alternativas, curadoria digital e ciência aberta, respectivamente. Os cursos são de curtíssima duração e o preço é camarada. Todas as informações estão no site Biblioteca Aberta.
Uma pequena parte do meu curso vai apresentar as diferentes frentes de estilo e processos de arquitetura de bibliotecas. Vejam um pouco abaixo:
a introdução do acesso livre às estantes, embora os livros ficassem presos por correntes (~1600):
o conceito de biblioteca universal, que contém todo o conhecimento disponível (~1790):
com o aumento no número de usuários, o balcão de empréstimo se torna o elemento central na arquitetura (~1890):
as bibliotecas “pré-fabricadas” de Carnegie, com espaço exclusivo para crianças (~1910):
arquitetura construtivista do modelo “worker’s club”, onde o trabalhador iria ao final do dia para se informar e instruir (1925):
a introdução do modelo escandinavo, que combina o modernismo com elementos tradicionais das biblioteca, além de utilizar materiais rústicos e de baixo custo (~1940):
brutalismo e bibliotecas universitárias introduzindo a ideia de flexibilidade de espaços, em função do crescimento do acervo (~1960):
a biblioteca como terceiro lugar, depois da casa e do trabalho/escola (~2000):
desmantelamento da abordagem tradicional, a biblioteca agora também incorpora galeria de arte, auditório, centro audiovisual, etc (~2005):
12 respostas para “Arquitetura de bibliotecas”
Existe a possibilidade de haver este curso em São Paulo, ou via web?
Seria muito interessante esse curso acontecer via web, tenho muito interesse no assunto, mas atualmente é inviável ir à São Paulo ou Rio 4 vezes em um mês 🙁
Gostaria muito de participar, o tema me interessa muito,i hoje sobre a formação, moro em São Paulo.
Interessante e oportuno. Tem muito professor de Cursos de Biblioteconomia afirmando, com muita, certeza, que as bibliotecas públicas acabaram!
Também gostaria de fazer o curso pela web. Infelizmente não encontrei um endereço de e-mail lá no site Biblioteca Aberta.net. Obrigada, abraços!
Aos que vierem visitar Curitiba, recomendo uma visita à Biblioteca Central da Universidade Positivo, referência em arquitetura aqui na cidade; obviamente tenho alguns pontos contra (não consultaram os bibliotecários quando desenharam o prédio…), mas ela é realmente bastante bonita.
http://www.mcacoelho.com.br/?portfolio=universidade-positivo
Podem me procurar aqui, por favor 🙂
Seria interessante ofertar os cursos na web.
Excelente iniciativa Moreno, parabéns e muito sucesso!!
[…] eu mais uma vez falando sobre arquitetura de bibliotecas quando eis que aparece nas livrarias o belíssimo livro Bibliotecas brasileiras, organizado por […]
faz em sp
e fala de acessibilidade para pessoas com deficiencia pfvr na moral
[…] Um artigo interessante do blog Bibliotecários Sem Fronteiras faz essa reflexão: http://bsf.org.br/2015/06/11/arquitetura-design-bibliotecas/ […]
Bom dia! Li seu artigo sobre Arquitetura de bibliotecas. Muito necessário!!! Acabei de me formar no curso de Arquitetura/Urbanismo e apresentei um estudo de práticas ação cultural em uma biblioteca escolar, que teve implicações interessantes na relação entre aprendizagem, espaço físico, convivência…e também o reconhecimento do estudante como produtor de conhecimentos.
Nosso exemplo inspirador são as salas de aula e a proposta pedagógica conhecida como Abordagem Reggio Emilia, na Itália.
Caso ainda esteja trabalhando nessa pesquisa e queira estabelecer contatos,
por favor, escreva.
Abraço,
Denis