Briquet de Lemos em sua felicidade clandestina

Que amante de livros não sonhou em ter sua própria livraria? Muitos com certeza, poucos, porém levaram a cabo projeto que no Brasil pode ser visto como um investimento arriscado. Essas linhas tratam sobre o que vi e um pouco do que ouvi do obstinado Bibliotecário Briquet de Lemos, que não apenas criou uma editora, como também sua própria livraria.

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As imagens aqui contidas datam de abril de 2015 e foram realizadas objetivando proporcionar uma visão do ambiente de trabalho criado por Briquet, que entre outras coisas, tem sido exemplo de empreendedorismo no âmbito de publicações voltadas para o segmento bibliotecário e áreas afins.

O objetivo desse texto é bem mais a apresentação do espaço, por isso oportunamente tomo emprestado à apresentação criada por Moreno Barros (para o Bibliocamp Rio 2015), que definiu em poucas palavras o homem Briquet de Lemos por trás de tantas atividades:

Antônio Agenor Briquet de Lemos tem umas das carreiras mais bonitas e completas da biblioteconomia brasileira. O homem certo, no lugar certo, já fez de tudo nessa vida: bibliotecário, professor, diretor, presidente, fundador, editor, livreiro, pai de rockeiro.

Sobre Briquet povoam muitas curiosidades tendo em vista sua larga experiência em tantos campos, contudo sigamos sobre a sua Livraria, que nasceu em paralelo com a editora, e conforme ele mesmo destaca “foi à editora que nasceu primeiro em 1993 e, somente no ano seguinte deu-se início a formação do estoque da livraria que foi crescendo aos poucos”.

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A livraria foi organizada em um espaço próprio. Ambiente físico que envolve duas lojas no Setor de Rádio e Televisão Sul, de Brasília. A Briquet de Lemos  Livraria de Arte tem o foco de atuação (como o próprio nome aponta) voltada para o segmento especializado.

Nas estantes, se destacam títulos que tratam sobre Fotografia, Dança, Música, Cinema, Literatura, Design e outros. O espaço reúne também (de forma muito restrita) parte da produção da editora que atua com temática especializada em Biblioteconomia, Arquivologia e Ciência da Informação.

A fachada da Livrara pode até ser considerada discreta. Um desavisado pode passar em frente e não perceber que se trata de uma livraria de arte, contudo os tons de  verde, branco e vermelho que emolduram a vidraça e os adesivos coloridos são os elementos chamativos que se integram a iluminação interna e juntos dão um toque de graça ao letreiro que identifica a Briquet de Lemos Livraria de Arte, na parte superior.

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Engana-se quem acredita que a livraria não dispõe de títulos efervescentes do mercado livreiro. Apesar de foco no segmento das artes, estavam em evidências quando lá estive alguns títulos populares, como por exemplo A menina que roubava livros do escritor australiano Markus Zusak, que já conquistou milhões de leitores em várias partes do mundo.

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Outro título que estava também em destaque era o livro Diário da Turma (1976-1986): História do Rock de Brasília, de Paulo Marchetti. É que Briquet tem um pé na história do cenário musical brasileiro por meio de seus filhos Flávio Lemos e Fê Lemos, da Banda Capital Inicial.

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O espaço físico da livraria não é grande, contudo foi muito bem aproveitado, seja no planejamento das estantes, expositores e objetos que compõe a decoração. Há um toque meio desordenado que particularmente gosto muito.

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O ambiente comercial da livraria é agradável, contudo o destaque arquitetônico fica por conta da adoção de um mezanino que trouxe muito charme ao ambiente. Espaço restrito, é no andar de cima que Briquet passa algumas de suas tardes, escrevendo, traduzindo, lendo, recebendo amigos.

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No mezanino também estão contidos parte do estoque da livraria. As estantes seguem o mesmo padrão do andar térreo e o espaço é bem iluminado. O guarda corpo em estrutura metálica oferece uma boa visão da movimentação no andar de baixo.  Sobre o mezanino, Briquet aproveitou para dizer que já ocorreu de algumas pessoas pediram para conhecer um pouco mais o espaço visando fazer um modelo semelhante.

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Ainda no mezanino, não pude deixar de observar o toque de intimidade e carinho contidos em um quadro de aviso em estrutura de madeira e cortiça. I love vovô, em desenho de coração, bem como a capa do livro Levadas e Quebradas de seu filho Fê Lemos, o baterista do Capital Inicial, publicação que conta as aventuras e suas andanças pelos Brasis de 2006 a 2011. A Briquet de Lemos é muito família!

Passei pouco mais de uma hora conversando com Briquet que olhou para uma bolsa em tecido com a estampa da Biblioteca Pública de Estocolmo, na qual usava àquele dia, então, em dado momento comentou que talvez já estivesse chegando a hora de pensar em uma nova aposentadoria e assim ter mais tempo para viajar e quem sabe até, visitar bibliotecas…e foi assim que ele contou que talvez o tempo da Briquet de Lemos Livraria de Arte poderia estar com os dias contados.

Do ponto de vista dos negócios, de forma reflexiva Briquet destacou que o mercado livreiro está em transformação. Houve muitas quedas na procura das livrarias físicas e os antigos consumidores vem abandonando o segmento convencional, ou seja, o hábito de ir à livraria, olhar, manusear e escolher um livro para comprar. A concorrência é grande por conta das facilidades oferecidas pela Internet.

Passados três meses da visita que fiz ao Briquet de Lemos e a sua Livraria, resolvi expressar minhas considerações sobre o momento, contudo antes de escrever essas linhas enviei um e-mail visando saber se havia alguma alteração sobre o futuro da livraria, ao qual Briquet destacou:

Sim, continuamos planejando o encerramento de nossas atividades. Afinal, ninguém é eterno. Ainda não definimos a forma como se dará esse encerramento. O que posso dizer é que está decidido que não faremos mais a edição de livros em papel. O último será o meu, que está na fase final de revisão do índice e feitura da capa. Vai se chamar: De bibliotecas e biblioteconomias: percursos.

Seja como for, a Briquet de Lemos (livraria ou editora) ainda estão em funcionamento e quando já não mais estiverem certamente permanecerão no imaginário de muitos bibliotecários que ainda tomarão em suas mãos, publicações vinculadas ao seu nome. E o bom é saber que Briquet nos regalará com algo mais, ou seja, nos próximos meses teremos a oportunidade de obter aquilo que ele fez por muitos (a edição de livros), sendo que este último, de seu próprio livro que virá recheado de memórias.

Foi um grande prazer visitar a Briquet de Lemos Livraria de Arte, bem como poder conversar com o seu idealizador. Na imagem abaixo meu sorriso expressa a gratidão por esse momento Geralmente quando escrevo textos em meu blog Caçadores de Bibliotecas utilizo imagens minhas como forma de comprovar a estada nos lugares, em outros veículos como a Revista Biblioo, por exemplo, evito fazê-lo, contudo dessa vez posto uma foto junto a Briquet por pura tietagem, afinal não é todo dia que estou  ao lado de um profissional por quem tenho tanta admiração.

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O título dessas linhas faz referência ao conto Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, que lido tantos anos atrás, produziu em mim reflexões sobre o quanto deveria ser bom ter um pai dono de livraria. Meu pai era músico, impressões como essas eu não tive, talvez possam ser respondidas por dois de seus filhos que são músicos?

……….

A Briquet Lemos Livros está localizada no Setor de Rádio e Televisão Sul, Quadra 701, bloco O, Loja 7 – Edifício Multiempresarial, Brasília, Distrito Federal. É possível adquirir os livros da livraria e da editora online: www.briquetdelemos.com.br


9 respostas para “Briquet de Lemos em sua felicidade clandestina”

  1. Poxa, uma pena a livraria fechar. Mas fiquei com uma dúvida Soraia: será que o Briquet não pensa em pelo menos deixar os livros de editoração dele (as traduções principalmente) para alguma outra editora que coloque em formato de e-book? Acho que seria uma boa, para que pelo menos as obras continuem circulando e as gerações futuras possam ter acesso. Não?

    Um abraço!

  2. É com grande satisfação que vejo neste blog a homenagem ao professor Briquet.
    Ele foi responsável por eu permanecer no curso de biblioteconomia. Prestei vestibular para o curso porque gostava muito de ler e achava que trabalhar em uma biblioteca iria permitir que eu lesse bastante.
    O meu desencanto se deu quando me deparei com as primeiras matérias do curso, chatérrimas, instrumentais, sem antes me explicarem para que serviriam. Fui salva pela matéria Introdução à Biblioteconomia com o professor Briquet. Com o seu jeito irreverente, ele me proporcionou uma leitura mais abrangente da profissão de bibliotecário, despertou a minha vocação e a de muitos outros. Graças às aulas do Briquet não abandonei o curso. Devo a ele a minha formação e o sucesso de nossa carreira.

    • Neide, que bonitas palavras de reconhecimento para o Briquet, eu tenho certeza que qualquer professor sentiria o maior orgulho de ler uma declaração como essa! Forte abraço!

  3. Excelente reportagem
    Faço parte da turma da Neide q tece no irreverente professor Briquet o gande incentivador da Biblioteconomia
    Pela classe ele já fez de tudo
    Presidiu conselhos, congressos, fomentou a Revista se Biblioteconomia de Brasilia, dirigiu bibliotecas, porém o q fica de toda sua historia é seu jeito irreverente porém sábio, comprometido e responsável de ver a Biblioteconomia e seu papel social, cultural e educacional de maneira de maneira tão singular
    Cultissimo, de maneira plena
    Honesto
    Simples
    E…. morro de orgulho em tê-lo como mestre, amigo e eterno conselheiro
    Parabens pela reportagem

    • Que legal que você gostou Adelaide. O bom é poder favorecer com que vocês que conhecem tão bem o Briquet se sinto motivados em expressar esses carinhos. Abraço!

  4. Irei a Brasilia amanhã e pretendo voltar à Livraria onde estive quando ainda morava na Capital. Sempre fui admiradora de Briquet, Amigo e nobre Colega na UnB. Á gente fica triste com o fechamento da livraria mas tenho certeza de que Briquet ocupará de forma criativa seu precioso tempo. Abraço!

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