Dentro de algumas semanas eu completo 10 anos de formado. Já estou em uma descendente profissional no sentido de que não preciso mais de uma conta no linkedin. E o mais importante, é reconhecer as limitações que a constante atualização da área exige e abrir espaço para os bibliotecários mais jovens, torcer que façam coisas novas e boas.
Olhando em retrospecto, muita coisa interessante aconteceu, muitas experiências. Mas o melhor que eu poderia oferecer para a área já fiz, o melhor que eu poderia dizer, já disse. Daqui pra frente, será apenas o trivial. Eu só quero continuar fazendo minhas coisas decentemente na minha bibliotequinha, compartilhar meus tweets e gifs de gatinhos no facebook.
Talvez outros colegas da minha geração despontem como representantes de importantes setores na área: um diretor de uma grande biblioteca aqui, um gestor de sistema ali, uma defensora de uma política importante para a área e assim por diante. Eu sempre falei que a responsabilidade da nossa geração, desses bibliotecários formados entre o final de 90 até 2010, era a transição da biblioteca em papel para a biblioteca plenamente digital. O fim dos catálogos de ficha. E salvo pequenos percalços, cumprimos bem esse papel.
Passados esses anos e olhando para trás, pensando no meu eu calouro de faculdade, será que existe uma fórmula para uma carreira decente? Profissionalmente falando, que conselhos você daria a si mesmo aos 18, 20 anos? Foi essa pergunta que fiz aos colegas no facebook e acho que é importante dividir aqui, não só pra servir aos futuros bibliotecários, mas também como nossa chance de fazer a avaliação e auto-crítica profissional.
Particularmente, além de mantras óbvios como trabalhar duro e assumir riscos, eu acredito muito em sorte. Não a sorte no estilo auto-ajuda, mas ei, várias cagadas aconteceram comigo, e não dá pra desconsiderar. Uma das mais importantes foi ter me formado justamente em um período que o país estava fervendo economicamente. Várias bibliotecas estavam sendo construídas do zero. Carreiras de internet com nomenclaturas que dois anos antes nem existiam, estavam explodindo. Estar no lugar certo, na hora certa é mais sorte do que preparação. Cagadas acontecem. Saiba tirar proveito.
Bem, muitas dicas poderiam ser dadas aos jovens bibliotecários. O post do facebook está lá para sua apreciação, com diversos conselhos, muitos que escritos de diferente formas, transmitem a mesma ideia. Separei aqui aqueles com que mais concordo:
Suzana Huguenin: Faça amizades na faculdade, você poderá precisar delas profissionalmente depois
Louise Arruda: aproveite o máximo que a faculdade te oferecer, matérias de outras áreas que te interessem, cursos de extensão, projetos de pesquisa, cursos de línguas mais baratos, possibilidades de intercâmbio, enfim, não tenha pressa pra terminar o curso – absorva o máximo que puder da universidade.
Amanda Moura: 1)Estude inglês. 2) Você não precisa ser um programador, mas precisa aprender pelo menos a usar bem a tecnologia. 3) Faça estágios em empresas da área que você gostaria ou pretende trabalhar. 4) O estágio só existe porque vc faz faculdade. Portanto, não falte aula ou deixe de estudar pelo estágio. 5) Se achar o curso chato, achar que poderia fazer outra coisa na vida, tranque o curso. 6) Se tiver intenção de continuar na área acadêmica, seja bolsista de iniciação científica. 7) Aproveite a faculdade, beba com os amigos, tenha conversas de corredor, interaja com pessoas de outros cursos, participe de ENEBDS E EREBDS. Essas coisas ajudam mais a se colocar no mercado que puxar saco de professor.
Gustavo Henn: Leia todos os livros que puder
Angelina Pereira: Não encare o estágio como um emprego único e eterno. Vivencie essa experiência rica em outras instituições
Ana Maranhão: Em pouco tempo tudo que aprenderam estara ultrapassado ou parcialmente ultrapassado. Estejam conectados, mantenham-se atualizados, leiam blogs, estejam permanentemente abertos a novas tecnologias.
Heres Emerich: Não ligue para notas, elas não ligam pra você. Ser aprovado é importante. Faça contatos na área na sua cidade e no resto do Brasil e do mundo se puder. Faça mais contatos ainda com a galera das outras áreas. Não subestime a importância do bar. Não subestime a importância da estrada. Esforce-se para entender como sua instituição funciona (burocrática e culturalmente), lute pra mudar o que achar errado. Depois esforce-se para entender como seu país funciona (burocrática e culturalmente), lute com todas as forças para mudar o que achar errado.
Anelise Duarte: Seja bolsista, faça dos seus professores não só seus mestres, mas seus futuros colegas, amigos de profissão. Escreva. Sempre anote as suas ideias, elas podem ser muito úteis num futuro próximo. Participe dos eventos estudantis. Eles abrem portas e abrem as mentes tb. Seja membro ativo do diretório acadêmico, saiba quem te representa. Estude, leia, ouça música e acredite que você vai aprender muito mais do que guardar livros.
Carla Rech: encare o interior do país como possibilidade de trabalho (tem muitas boas vagas no interior que são pouco disputadas); se tiver a oportunidade faça intercâmbio, com o tempo suas obrigações aumentam e a chance de viver essa experiência diminui
Carla Castilhos: pensa bem antes de pegar qualquer estágio, conversa com os colegas pq tem uns vários que são furada; faça cursos e mais cursos e aproveite os descontos para estudantes. e o mais importante: a faculdade passa, a profissão é o que fica. se o curso é xarope não necessariamente o emprego depois vai ser
Zé Estorniolo: Troca de curso!! rss
Dora Steimer: Os conselhos nunca mudam. As pessoas mudam.
Com certeza dá pra destrinchar mais esses conselhos. Eu ainda tenho o projeto, trivial, de escrever o “tudo que você sempre quis saber sobre biblioteconomia mas tinha vergonha de perguntar”. Estes conselhos farão parte de um dos capítulos finais.
Dar conselho é mole, se todos fossem bons, ninguém daria de graça. Mas talvez essa seja a coisa mais importante da nossa pequena classe profissional: dá pra conhecer as pessoas de verdade, estreitar laços, estabelecer redes, fazer amizades, confiar nos seus conselhos. Eu não posso dizer o nome de todas as pessoas que me ensinaram, me apoiaram, trabalharam comigo e me aturaram. Mas eu gostaria de agradecer a todos elas. A profissão tem os seus dias de merda, repletos de gente acéfala. Mas tem também outros dias de glória, feitos por pessoas do bem, bibliotecários e usuários, que fazem valer a pena.
Work hard, play hard. Get lucky.
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