Mesmo com periódicos ajustes e atualizações, dificilmente um curso universitário consegue acompanhar as evoluções do mercado. Isso vale para todas as áreas. Algumas lacunas na preparação tradicional de 4 anos podem ser preenchidas com cursos paralelos e formação continuada. Todos concordamos com isso, mas fico sempre pensando comigo mesmo, como seria uma grade/matriz curricular para o curso de biblioteconomia mais adequada para o mundo atual?
Pensando nisso eu joguei a seguinte pergunta no facebook: o que você não aprendeu na escola de biblio que gostaria de ter aprendido e o que você aprendeu na experiência profissional que não te ensinaram na escola de biblio?
Minha síntese é que a formação do bibliotecário poderia ser melhorada nas seguintes frentes: administração e tecnologia. Normalmente essas disciplinas são oferecidas dentro da matriz como superficiais comparadas às disciplinas de processos técnicos voltadas à gestão de acervos. São ministradas por professores dos cursos de origem, que em geral não tem qualquer conhecimento sobre a operação de bibliotecas (mal os de biblio tem). Lembro de reuniões de departamentos que essas disciplinas eram um fardo, tanto para os professores dos outros cursos como os professores de biblio.
Não acredito que a ABECIN não tenha conhecimento desse tipo de descompasso, que em princípio, não seria algo difícil de ser solucionado. A sugestão inicial seria reduzir algumas disciplinas excessivamente técnicas (quem precisa de três semestres de CDD?) e oferecer mais disciplinas de TI e ADM, com foco especial em bibliotecas. Mas não fazer apenas mudança de nomenclatura de disciplinas com o mesmo corpo docente de sempre, isso não.
Um leque de disciplinas poderia ser oferecido por especialistas que não necessariamente fazem parte do corpo docente, ou então disciplinas a distância ministradas por pessoas reconhecidamente competentes naqueles temas, e já que, afinal, a rede de universidades é praticamente uma só, não seria tão absurdo propor uma equivalência de créditos entre as universidades federais e estaduais.
Um estudo relevante poderia ser feito com os principais contratantes de bibliotecários ao redor do país, públicos e privados, e solicitar que eles indiquem o tipo de profissional que desejam. Ou então elencar descrições de vagas de trabalho que não são direcionadas à bibliotecários, mas que poderiam ser preenchidas por nós. E a partir disso redesenhar a matriz pra atender as demandas.
Claro que vão dizer que alguns cursos já fazem isso e reformularam suas grades, e que a universidade não tem como ensinar tudo, e que o aluno/profissional é responsável por sua formação também, e que a universidade não tá pra formar só mão de obra, e etc. Mas convenhamos né, muito da formação está completamente fora da realidade e a biblioteconomia mudou muitos nos últimos 20 anos. Não dá pra ficar sempre correndo atrás de atualização por fora ao mesmo tempo em que perdemos tempo dentro de sala de aula.
Algumas das respostas estão compiladas abaixo, principais temas que merecem ser ensinados mais e melhor:
ADMINISTRAÇÃO
– gestão de projetos, planejamento estratégico, plano de metas, concorrência a editais
– gestão de orçamentos, como gerir recibos, NFs, Lei 8.666/93 e impostos (processos de aquisição e assinaturas)
– marketing e comunicação da biblioteca (promocional, redes sociais)
– arquitetura de biblioteca, segurança de acervos, insalubridade
TECNOLOGIA
– avaliação de sistemas de automação (quesitos técnicos, customização)
– desenvolvimento de softwares (open source, apps, mobile)
– informação digital (competência digital, social media, mineração de dados)
GESTÃO DE PESSOAS
– atendimento e venda (comportamento informacional)
– relacionamento interpessoal, gestão de conflitos, psicologia
– colaboração, mentoring e coaching
PROCESSOS TÉCNICOS e outros
– mediação de leitura
– acessibilidade
– lei de acesso à informação
– idiomas
UNIVERSIDADE
– distância entre teoria e prática (foco na pesquisa em detrimento do ensino e extensão)
– parcerias com as bibliotecas setoriais (estágios e extensão)
– intercâmbio de matrizes, oferta de disciplinas de outras universidades, créditos a distância
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