Como funciona o mercado editorial no Brasil

peço perdão ao Rodrigo por reproduzir aqui na íntegra o conteúdo que foi publicado na newsletter do Grifo Negro. Mas era muito bom pra deixar passar e certamente vai ajudar a desmistificar muito aos bibliotecários, que são grandes compradores de livros no Brasil.

PRODUZIR UM LIVRO SAI MAIS CARO DO QUE PENSAMOS – Vários elementos compõem os custos de um livro: adiantamento e outros acordos de direitos autorais (quando aplicável, de 5% a 10%); tradução (quando aplicável); revisão de prova; revisões (que podem chegar a três); diagramação; capa; impressão; unidades para divulgação (blogs, revistas, jornais); margem de desconto na “venda” para as livrarias; impostos; provisão para inadimplência. Os custos gráficos variam conforme o miolo, a capa, o formato/as dimensões. Uma porcentagem significativa do preço de venda fica com as livrarias, físicas ou digitais. Como regra, as editoras dão para as livrarias um desconto de 50% sobre o valor de capa proposto. Por exemplo, se o preço de capa sugerido for de R$ 39,90, a livraria pagará aproximadamente R$ 20,00. Isso dá margem para promoções, como estamos acostumados a ver. Excepcionalmente, pode existir desconto maior na primeira leva de livros da editora para a livraria, ou outros acordos especiais.

POR QUE AS VERSÕES DIGITAIS SÃO CARAS – Como regra, os contratos estipulam um limite para o valor do ebook de 50% do preço de capa da edição física. Desse modo, como os livros, no Brasil, costumam ter um preço de capa de R$ 29,90 e de R$ 39,90, a versão digital fica com preços maiores do que os praticados, por exemplo, nos EUA.

AS LIVRARIAS SÓ COMPRAM OS LIVROS DEPOIS DA VENDA PARA O CONSUMIDOR – Ao contrário do que acontece em outros países, as livrarias brasileiras não compram os livros das editoras antes de venderem. Existem dois sistemas por meio dos quais distribuem os livros: consignação e venda com direito de devolução. A diferença está no momento em que o dinheiro entra no caixa da editora: na consignação, só entra quando há o acerto de contas, isto é, quando a livraria fatura os livros efetivamente vendidos (ou perdidos) e devolve o restante, se houver; na venda com direito de devolução, o dinheiro entra “imediatamente” no caixa da editora, mas, passado um tempo, a livraria tem o direito de devolver os livros não vendidos e reclamar o dinheiro (proporcional) de volta. O dinheiro não entra imediatamente no caixa das editoras em nenhuma das hipóteses: há prazos entre o faturamento da compra dos livros e a efetiva transferência da quantia. O prazo pode variar de 60 a 120 dias, conforme as negociações entre as partes, e o acerto de contas pode acontecer, às vezes, apenas uma vez por ano. Os pagamentos ainda podem ser feitos por outras formas, como por meio de bonificações em futuras compras. Por exemplo, a livraria devolve um número de livros e fica com um crédito de quatro mil reais que são abatidos da próxima aquisição de livros da mesma editora. Assim, as editoras têm de bancar todos os gastos desde a decisão pela publicação de uma determinada obra até o real recebimento de qualquer repasse das vendas pelas livrarias.

AS EDITORAS NÃO ODEIAM OS LEITORES – As editoras dependem dos consumidores, isto é, dos leitores. Mas a viabilidade de uma obra leva em conta a projeção de recepção pelo mercado em relação aos custos projetados. Em outras palavras, se o livro não se pagar e gerar lucro razoável, ele não será publicado ou republicado. O custo unitário é menor quanto maior for a tiragem. Em contrapartida, o risco é maior, já que o custo total é maior. Se as vendas não atingirem o mínimo, a editora absorve um prejuízo proporcional. O raciocínio se aplica a séries de livros: se o primeiro ou o segundo volume não se bancarem, provavelmente os demais não serão publicados.

POR QUE AS EDITORAS NÃO VENDEM OS LIVROS DIRETAMENTE – Se as editoras vendessem os livros diretamente, por loja ou site próprios, os preços poderiam ser menores e os lucros, maiores. Não existe nenhuma lei que proíba o comércio direto. Porém, haveria uma saia justa com as livrarias, que provavelmente deixariam de distribuir os livros dessa editora, pois não teriam como igualar os preços. O mercado editorial tem um equilíbrio complicado no atual modelo.

QUANTO OS AUTORES RECEBEM DE ROYALTIES – Geralmente as editoras pagam um adiantamento de direitos autorais para o autor contratado. Esse valor corresponde a um valor mínimo assegurado ao autor, ou seja, o autor não deve nem precisa reembolsar o adiantamento caso as vendas não atinjam o valor correspondente. Os royalties correspondem a um percentual do valor de venda, entre 5% e 10%. Se e quando as vendas de livros ultrapassam o valor do adiantamento, o autor começa a receber, no período estipulado no contrato, a sua porcentagem.

NENHUMA EDITORA COBRA PARA PUBLICAR UM AUTOR – Editora (ou editor) é a pessoa física ou jurídica (“empresa”) “à qual se atribui o direito exclusivo de reprodução da obra e o dever de divulgá-la, nos limites previstos no contrato de edição”, nos termos da Lei de Direitos Autorais. Se uma empresa cobra do autor para publicar, não é uma editora, mas uma gráfica ou, no máximo, uma prestadora de serviços. Não basta que se autodenomine “editora.” Em resumo, uma editora é um negócio cujo lucro vem da venda dos livros.


20 respostas para “Como funciona o mercado editorial no Brasil”

  1. Também vale dizer que muitas vezes os autores recebem em livros os seus direitos autorais; que as editoras não informam com facilidade como estão as vendas; que o marketing é na maioria dos casos responsabilidade do autor.
    Resumindo: não vale a pena arriscar, as chances de ter prejuízo são quase de 100%.

  2. Boa matéria, mas tem muita editora (e que se considera como tal) que cobra, sim, para publicar. Atrevo-me a dizer, inclusive, que autor desconhecido hoje no Brasil só tem esse caminho. Claro que isso acontece através de um esquema de devolução do valor que foi investido, quer seja através de uma quantidade de livros destinadas ao autor, quer seja através do pagamento de direitos autorais. Em ambos os casos, contudo, nem sempre existe a garantia de que o autor recupere o investimento. Já aconteceu (com um amigo meu) de o autor ter que pagar duas vezes pelo mesmo livro: primeiro para cobrir os gastos de impressão/revisão/capa etc, e segundo: quando encerrou o contrato e a editora, por questões de logística em seu estoque, lhe ofereceu os exemplares por um valor de custo, alegando que os livros seriam enviados para reciclagem caso não houvesse interesse da sua parte. Ele, por motivos sentimentais, acabou comprando o estoque (que ele mesmo já havia pago).

    • Sabia que existe uma PORRA chamada internet? Sabia que é fácil disponibilizar um livro de maneira virtual, seja em PDF, EPUB ou outro formato? Ah! O fetiche de se achar escritor só é completo se o imbecil estiver com a porra de um livro de papel na mão.

    • Se a editora está cobrando para publicar livros, ela não pode ser considerada uma editora e sim uma prestadora de serviço de diagramação e impressão.

      • O que tem de estelionatário levando o nome de editora… A chiado, por exemplo!… Saramandaia… República das Letras…

  3. Mas e no caso dos e-books? Como é o sistema? eles dão um desconto além do que já é sugerido no preço de capa para as livrarias, seguindo a mesma dinâmica dos exemplares físicos?

    Obrigado.

  4. O mercado editorial no Brasil funciona assim: várias edições de porcarias para mulheres, tais como garotas exemplares, garotas no trem, 50 tons de babaquice e várias edições de lixos como Harry Potter. Tudo bem, sem essas porcarias o mercado editorial não se mantém. Contudo nas prateleiras do Brasil não vemos nada de Anton Theckov, Flannery O`connor, Par Largekvist etc. Nem mesmo autores do continente sulamericano dão as caras por aqui. O Brasil é uma vergonha em termos editoriais.

    • Ui. Como ele é nervosinho! Eu amo pseudointelectuais como você falando mal de obras de literatura popular. Nem sequer tem bons argumentos, apenas gritam e pulam feito chimpanzés. O fato é que não se pode chamar um livro de lixo sem chamar seus leitores de lixo também. E não imagino um motivo pelo qual eu chamaria de lixo alguém simplesmente por tal pessoa querer ser arrebatada desse mundo para um mundo de fantasia, seja essa fantasia mágica ou sexual. Se Tchecov não tem o mesmo poder arrebatador para essas pessoas será que é culpa dos leitores ou do próprio Tchecov que, ou foi preconceituoso quanto a obras que não interessem apenas a intelectuais ou não teve a idéia de produzir uma obra arrebatadora a esse ponto? Talvez, hoje essas pessoas poderiam estar lendo uma obra sem precedentes, tanto para arrebatá-las quanto em bom gosto mas, em lugar disso, temos um chimpanzé gritão chingando em um comentário.

      • O mercado editorial é sim, salvo raras exceções, medíocre.

  5. E no caso de editoras que fazem uma parceira com o autor? No caso, normalmente imprimem 1500 exemplares, sendo 1000 da editora e 500 do autor e este precisa pagar pela tiragem de 500 e vender para recuperar o investimento. Ainda assim não é apropriado?

    • Não, Arthur. A editora de verdade é uma investidora, ela investe dinheiro no risco de publicar a sua obra. Obviamente, para diminuir os riscos, ela faz uma boa capa, revisa a gramática e faz uma boa divulgação. Se você para pelos custos é você que está investindo e não eles.

  6. PunliPubl o livro Uma licitação bem redonda. Interessados podem acessar o site da Haikai Editora. Livro com visao prática do tema licitações e contratos. Recomendado para área pública e para microempresas e empresas de pequeno porte que participam de licitações pubpúbli.

  7. Cultivar o interesse dos jovens a leitura de livros nas escolas e universidades é muito importante, mais por causa dos custos acredito que o livro digital vai acabar se destacando…

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