Arte é algo que penso ser um entendimento muito pessoal de um produto que procura te tocar os sentidos, seja para o deleite ou mesmo para o asco, mas só se torna, só é, quando te toca de alguma maneira.
Sou um apreciador, um entusiasta da arte, não importa em que pacote me entreguem. Música? tô dentro! Pintura? é nóis! Escultura? manda um Strazza aí e tamo conversados. Teatro? enfim, cês já entenderam. Mas como disse, sou um entusiasta, não consigo produzir nada. Sou aquele crítico frustrado que só restou sorrir com as belezuras.
E dia desses me deparei com uma belezura dessas. Aliás, chamar esta obra de belezura chega a ser uma afronta, um disparate! Peço perdão. Pois bem, esbarrei com uma obra do Sergio Toppi, a magnífica “Sharaz-De: conto de as mil e uma noites”, que acabou de ser publicada aqui no Brasil pela editora Figura. Esta é a primeira publicação da editora, sua estreia. A Figura é uma editora que, como ela mesmo diz, irá se dedicar fundamentalmente à imagem (fotos, quadrinhos, ilustrações e pinturas).
E olha, parabéns pra editora. Chegaram com os dois pés juntos bem no meio dos peito.
Mas vamos falar sobre a obra, né?
Sharaz-De foi publicada por Toppi (estou íntimo) a partir de 1979. É uma novela gráfica que abarca vários contos dentro da narrativa de um rei cheio de cólera devido a traição de sua esposa. Após o chifre, ele decide que vai dormir com uma mulher diferente todas as noites e esta deverá ser morta ao amanhecer. Gente boa, não? Nessas que surge Sharaz-De, que deveria ser um das mulheres que só se deitariam por uma noite com o rei e seria assassinada ao raiar do dia. E ela que de boba não tem nada, entretém o rei com seus contos e vai adiando sua morte na curiosidade que ele tem em ouvir novas e singulares histórias. Ela é boa de papo, vá por mim.
Toppi não economiza genialidade. Cada página é uma obra de arte cheia de textura e profundidade, com personagens que ganham corpo logo ao serem apresentados. O uso do espaço negativo (quando o ilustrador compõem o desenho sem tracejar no espaço), o cuidado documental com suas indumentárias e o surrealismo que, neste caso, nos aproxima mais ainda da narrativa em vez de nos distanciar dela, só mostra que você está diante de uma das obras mais belas já criadas dentro dos quadrinhos (e fora dele). É pra chorar de tanta emoção quando você folheia cada página.
Demorei muitas horas para terminar de ler, não cabia só a leitura, ficava vidrado em cada ilustração, em cada toque genial que Toppi deu para esmiuçar o universo que era apresentado e ir além de ser só o palpável aos olhos. O quadrinho é quase todo em preto e branco, só na meioca ele tem um conto todo colorido. E cara…assim…véi! Quando ele usa as cores, ele esculacha geral. Dá vontade de trazer o cara dos mortos só pra agradecer. Sim, esqueci, ele morreu em 2012. So sad =(. Sorte nossa que antes de morrer ele criou essa obra pra gente babar.
Walt Simonson – criou o desenho clássico do Thor – quando se deparou com uma obra do Toppi disse “acabei de achar a coisa mais bonita já desenhada pelo homem”. Tem noção? Então, é nesse nível.
No meu caso, digo o mesmo. Foi a minha melhor compra do ano e recomendo a quem gosta de arte e quadrinhos.
Sendo assim, resolvi escrever sobre essa lindeza, pois sei que muitos bibliotecários buscam preencher a sessão de quadrinhos em suas bibliotecas somente com as editoras maiores e que acabam chegando até eles por ter uma maior divulgação. Existem diversas publicações pipocando por aqui que fogem do convencional. Por isso, amiguinhos, corre atrás disso, coloca em destaque na biblioteca, mostra isso pro mundo e chora junto comigo.
Xero no cangote!
Chora
Chora mais
Me abraça
Eu sei, eu sei
O espaço negativo que falei
Lindo, não?
Não é jaba.
A Figura está com uma promoção de 20% na obra. =)
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SHARAZ-DE: CONTOS DE AS MIL E UMA NOITES (vol. 1)
Autor: Sergio Toppi
(Capa dura/ formato 21 x 29,7cm/ 160 pgs./ Tradução de Maria Clara Carneiro)